Reza Aslan é
o autor do livro Zelota – a vida e a
época de Jesus de Nazaré. Ele é especialista em temas religiosos, formado
em Harvard e na Universidade da Califórnia. Estudou o Novo Testamento, grego
bíblico, história, sociologia e teologia das religiões. Nascido no Irã, ele
vive entre Nova York e Los Angeles.
Aslan e seu
livro alcançaram projeção e interesse e, consequentemente, tremendo sucesso
editorial, depois de uma polêmica entrevista na rede de televisão americana Fox
News, com grande audiência de cristãos de diferentes denominações nos Estados
Unidos. Na entrevista, a jornalista Laura Green questionou duramente Aslan e
perguntou como ele teve a ousadia de escrever um livro sobre Jesus, sendo muçulmano. A pergunta
foi considerada preconceituosa e Aslan respondeu que escreveu o livro como
acadêmico com doutorado e especializações em história das religiões e 20 anos
de estudo das origens do cristianismo. Esse debate contribuiu para as vendas
aumentarem quase 50%.
Em síntese,
Aslan defende em seu livro o seguinte: Jesus, ao contrário do que pregam as
denominações cristãs, não foi um pacifista que, diante da violência “oferecia a
outra face” e amava os inimigos. Segundo Aslan, Jesus foi um revolucionário,
cujo objetivo principal era expulsar os romanos da Judeia, criar um reino de
Deus na Terra e assumir seu trono. Ele recupera com novas cores uma antiga
versão de cristianismo – em voga nos anos 1960 graças à Teologia da Libertação,
que misturava cristianismo com marxismo. Era um Jesus mais para Che Guevara do
que para Madre Teresa de Calcutá. “Ele era um zelote revolucionário, que
atravessou a Galileia reunindo um exército de discípulos para fazer chover a
ira de Deus sobre os ricos, os fortes e os poderosos”, escreve Aslan no começo
de seu livro.
Zelote é uma palavra
derivada do aramaico. Significa “alguém que zela pelo nome de Deus”. Outra
possível tradução para o termo é fervoroso,
ou mesmo fanático. Sua origem está
ligada ao movimento político judaico que defendia a rebelião do povo da Judeia
contra o Império Romano. Os zelotes pretendiam expulsar os romanos pela força.
O empenho do
autor em sua argumentação supostamente embasada pela História é desconstruir a
figura do Jesus pacifista, amoroso e pregador de um reino eterno, e apresentá-Lo
como um revolucionário disposto a reverter a ordem e Se estabelecer como rei
dos judeus liderando-os na libertação do jugo romano.
Porém, as
convicções de Aslan esbarram em limitações que ele procura resolver com uma
argumentação especulativa. Procura preencher a falta de dados com suposições,
visto não encontrar registros históricos suficientes. O irônico é que a fonte
principal do autor é o próprio evangelho que ele procura desmerecer como fonte
fidedigna. Empenha-se ao máximo para desfazer a concepção cristã acerca do
Jesus que, diante de Pilatos, afirmou: “O Meu reino não é deste mundo” (João
18:36).
O teólogo
Martin Goodman, professor de história romana em Oxford, observa que “o problema
não é Aslan ser muçulmano ou ser iraniano. O problema é que ele usa uma tese
ultrapassada e desacreditada como se fosse uma verdade absoluta”.
A revista Época, ao comentar a respeito do livro, analisa
assim: Aslan escreve de modo fluente e coloquial sobre complexas discussões
acadêmicas e transforma densos emaranhados filosóficos em narrativas
emocionantes. Mas seu livro apenas prova como é difícil tentar ligar a
compreensão do cristianismo à história de Jesus – um personagem de traços e
características que O diferenciam profundamente dos seres humanos comuns.
(Alceu Nunes é editor associado
na Casa Publicadora Brasileira)