IASD de Águas Claras, Brusque |
Com
milhares de seguidores, a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) é uma das
maiores religiões sabatistas no Brasil [mais de um milhão no Brasil, na
verdade]. Os fiéis são conhecidos por não poderem [sic] trabalhar entre o pôr
do sol de sexta-feira até o de sábado. Essa particularidade da religião se
apresenta como um desafio para as escolas, universidades e outros órgãos
oficiais, que devem respeitar a crença e adaptar horários e jornadas de
trabalho para os sabatistas. De acordo com o Censo de 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o último realizado, existem 820
adventistas em Brusque, e outros 883 em Guabiruba – a maior comunidade da
região -, totalizando mais de 1,6 mil fiéis. Os seguidores trabalham e estudam
normalmente, menos no sábado.
Halliwel
Fontana é o pastor da Igreja Adventista em Brusque. Ele prega em diversas igrejas
no município. O líder adventista explica que o costume de guardar o sábado está
embasado na bíblia. A principal referência é a criação do mundo, que, segundo a
Bíblia, demorou seis dias. No sétimo dia, Deus descansou. Ou seja, os
adventistas preservam o sábado por causa disso. Além disso, o pastor explica
que vários profetas sempre guardaram o sábado, como manda o Livro sagrado.
É
por isso que os adventistas não podem [sic] trabalhar, estudar ou fazer
qualquer outra atividade no sábado. Outra particularidade é que, para os
adventistas, os dias não começam à meia-noite, mas sim a cada pôr do sol. Por
isso, para eles, o sábado vai do pôr do sol de sexta até o pôr do sol de
sábado. “No sábado, nós temos a Escola Sabatina, que é a maior escola do mundo,
e depois temos o culto”, diz Fontana. A Escola Sabatina ocorre às 9h de todo sábado,
em todo o mundo.
Após
estudar e ir ao culto, os adventistas costumam tirar a tarde para pregar ou
fazer boas ações. O pastor Fontana diz que muitos aproveitam para ir aos asilos
e realizar doações. Ele afirma que o descanso semanal é bom para a mente, pois
evita a fadiga emocional e recarrega as baterias para a nova semana.
Uma
lei estadual de 1999, sancionada pelo então governador Luiz Henrique da
Silveira, garante que os adventistas e outros sabatistas tenham o direito à sua
crença respeitados. Num dos artigos, a legislação prevê que as faltas de alunos
dessas religiões devem ser abonadas, sem prejuízo para eles. A Constituição
Federal garante a todos os cidadãos a liberdade de culto religioso, porém,
nenhum patrão é obrigado a manter um funcionário sabatista. O que não pode é
discriminar.
No
entanto, como na região a Igreja Adventista é forte, há casos em que se
consegue chegar a um meio-termo. É o caso de Sérgio Pereira, que trabalha no
Hotel Gracher e é adventista há 15 anos. Ele segue o costume da sua religião e
não trabalha aos sábados. “Como hotel tem vários horários dinâmicos, dá para
adaptar os horários”, afirma Pereira. A relação dele com a chefia é na base do
bom-senso, e assim tem funcionado.
O
empresário Erivan Cavichioli, proprietário da Ellotex, é adventista e segue à
risca os preceitos da religião. O horário de funcionamento da companhia é das
7h às 12h e das 13h às 17h de segunda a quinta-feira. Na sexta, termina uma
hora mais cedo, por causa do pôr do sol. O esquema de trabalho diferente é
explicado ao funcionário no momento da contratação. E tem dado certo, conforme
o empresário. Ele diz que assim que se converteu, há 18 anos, e pesquisou sobre
a religião, os novos costumes vieram naturalmente.
Os
desafios para a área educacional também são grandes. De acordo com a gerente de
Educação da Agência de Desenvolvimento Regional (ADR), Sônia Maffezzolli, a
maior comunidade de adventistas da regional fica em Guabiruba, por isso, a
escola estadual João Boos conta com o Ensino Médio no período matutino. Sônia
afirma que a regional tomou a atitude já há algum tempo em Guabiruba porque o
número de alunos que teria de faltar às aulas à noite seria considerável. No
contexto geral, contudo, os adventistas não representam um grande contingente.
Em Brusque, o volume “é muito baixo” e nas outras cidades, menor ainda.
Segundo
a gerente de Educação, os alunos adventistas que trabalham e estudam à noite
não são prejudicados. Eles recebem atividades extracurriculares, como
trabalhos, para fazer fora da sala de aula e são avaliados em cima disso.
Os
sabatistas também têm diferença em relação aos demais na hora do vestibular. No
caso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), eles ficam numa sala reservada e
começam a prova só depois do pôr do sol. O mesmo ocorre na avaliação da Acafe,
que dá vaga para a Unifebe.
Arthur
Timm, assistente de eventos da Unifebe, atuou como fiscal na sala de sabatistas
no último vestibular de verão. Ele conta que os cerca de 12 candidatos foram
isolados numa sala às 13h, horário oficial da prova. Até as 19h, eles comeram,
rezaram [sic] e cantaram. Por volta das 19h20, quando o sol já não estava mais
no céu, eles começaram a prova.
Nota:
Quero parabenizar as autoridades do município de Brusque e região pelo
bom-senso e pela sensibilidade com que têm lidado com os adventistas do sétimo
dia. Essa região de Santa Catarina, berço do adventismo no Brasil, está dando
um belo exemplo de boa convivência, liberdade religiosa e respeito. Que sirva
de exemplo para outros. [MB]
Assista aos vídeos
a seguir para conhecer um pouco sobre a origem do adventismo no Brasil e sobre
a vigência do sábado bíblico.