O
livro Maquiavel Pedagogo ou o Ministério
da Reforma Psicológica, escrito em 1995 pelo francês Pascal Bernardin, e publicado
em 2013 pela editora Eclesiae e Vide Editorial, com tradução de Alexandre
Muller Ribeiro, é um livro fundamental para todo educador, tanto para um
principalmente no trabalho educacional ou aqueles que estão recém-iniciando
seus estudos em pedagogia, quanto para professores que já estão inseridos nesse
trabalho e que percebem a necessidade de reavaliar seus métodos e objetivos a
respeito da educação. Segue-se uma breve explanação de algumas partes da obra.
Maquiavel
Pedagogo trata das estratégias
psicológicas usadas por entidades globais, tais como a Organização das Nações Unidas
(ONU), a United
Nation Educational, Scientific and Cultural Organization (Organização
para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas – Unesco), Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre outras, para
implementar uma revolução pedagógica com o objetivo de inserir nas sociedades
em todo o mundo novos comportamentos, estruturar uma nova ética, estabelecer
novos padrões de vida e valores por meio das reformas educacionais e
psicológicas apresentadas em seus documentos oficiais, que lançam diretrizes a
serem seguidas pelas nações de todos os continentes.
Discretamente, nessa nova ética que busca
estabelecer seus padrões de comportamento tidos como “progressistas”, está
contida a velha e utópica visão de mundo comunista, cujos objetivos mais
antigos, mas ainda presentes, são a desestruturação da família, abolição da
propriedade privada e a propagação da descrença em Deus, facilmente percebida
por uma leitura rápida do Manifesto
Comunista, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels. Tais objetivos nunca
foram deixados de lado por aqueles que buscam implementar essa cosmovisão. O
que mudou foram suas estratégias.
Como Antonio Gramsci percebeu posteriormente,
seria preciso deixar de lado a luta armada e violenta (como ocorrida na Rússia)
e infiltrar, de maneira lenta e gradual, o idealismo comunista, sem jamais
declarar abertamente que isso está sendo feito, usando-se sempre, então, das
vias pacíficas, democráticas e constitucionais, paralisando a consciência dos
indivíduos e massificando toda a sociedade com uma propaganda subliminar e
imperceptível, infiltrando-se em todas as instituições das sociedades. E desde
então é isso o que tem acontecido. Afastando-se, então, da antiga tática da
luta armada e violenta, usa-se, entre tantas áreas, a psicologia e a pedagogia,
conforme demonstra Bernardin, e até mesmo a religião para se inserirem novos
valores, modificar as atitudes e condutas e, assim, de modo sutil e perspicaz,
alterar os comportamentos da sociedade.
Inicialmente, Bernardin vai demonstrando quais
estratégias são usadas para se gerar essa mudança de comportamento em níveis
locais e globais, principalmente através dos instrumentos da psicologia e das
pesquisas realizadas nessa área, aplicadas, então, em salas de aula. Analisando
documentos do Instituto Universitário de Formação de Mestres (IUFMs), uma
instituição francesa criada no inicio dos anos 1990 para discutir e direcionar
a formação de professores, com o objetivo de aproximar nessa formação a
realidade das escolas, o autor destaca quais as técnicas de manipulação
psicológica que permeiam esses e outros documentos, como é o caso das
diretrizes apontadas pela Unesco e ONU em relação à educação. É importante
ressaltar que tais pesquisas em psicologia não tinham como objetivo seu uso na
educação e, por isso, essas entidades apontadas tiveram o trabalho de destacar,
reelaborar, adaptar e aplicar então essas pesquisas nas práticas pedagógicas.
Assim, o autor demonstra que as psicopedagogias “se valem de métodos ativos destinados
a inculcar nos estudantes os ‘valores, as atitudes e os comportamentos’
definidos de antemão. Por essa razão foram criados os IUFMs, que se empenham em
ensinar essas técnicas de manipulação psicológica aos futuros professores” (p.
10). Essas manipulações psicológicas,
por sua vez, têm o aspecto disfarçado de modernas práticas de ensino e
aprendizagem. Vale destacar que as reformas educacionais pelas quais o Brasil
passou na década de 1990 receberam significativa influência dessas entidades.
Ao longo do livro fica claro que a escola mudou
seu papel nas últimas décadas. Antes de ser um local onde se forma
intelectualmente um indivíduo e se desenvolvem suas capacidades cognitivas, a
escola se tornou o laboratório de uma engenharia social que testa e aplica
novos métodos para a formação social de crianças e adolescentes e se inserem,
por meio de tais métodos, os novos (e estranhos) “valores” morais e sociais que
vemos emergir a cada dia. Por isso, percebe-se em todos os países que, desde a
década de 1990 passaram a seguir as orientações dessas entidades, que o nível
escolar continua e continuará decaindo. Cada vez mais se aprende menos na
escola. Os conteúdos das disciplinas como Gramática, Matemática, Física,
Biologia, etc., estão ficando em segundo plano, e as aulas têm sido
constantemente um meio de se inserirem os valores de uma agenda de esquerda,
com suas pautas como o aborto, o homossexualismo, a desestruturação dos valores
familiares, o ateísmo, e todas as suas derivações e consequências resultantes.
Você pode conferir um exemplo disso aqui.
Dos capítulos 1 ao 4 são apresentadas as técnicas
psicológicas utilizadas. Têm-se, por exemplo, a “submissão à autoridade”,
desenvolvida por Stanley Milgram; a tendência do ser humano ao “conformismo”,
estudada por S. E. Asch; os efeitos da “norma do grupo” sobre o indivíduo,
conforme demonstrada pelos trabalhos de M. Sherif; o fenômeno “pé-na-porta”,
apresentado por Freedman e Freaser; o “porta na cara”, a teoria da “dissonância
cognitiva”, desenvolvida por Festinger nos anos 1950, entre outras que são
adaptadas e incorporadas nas práticas pedagógicas.
Alguns exemplos podem ser apresentados brevemente
aqui: a tendência ao conformismo, por exemplo, foi estudada por Asch. O
pesquisador fez o seguinte teste: é apresentada ao sujeito avaliado uma linha desenhada
sobre uma folha (linha padrão). Juntamente com ela estão outras três linhas de
tamanhos diferentes (linhas diferentes). Em seguida lhe é pedido para apontar
qual das três linhas tem o mesmo tamanho da linha padrão. Mas juntamente com o
sujeito avaliado estão outros indivíduos associados ao pesquisador e cuja
tarefa consiste em responder à mesma questão, mas propositadamente de modo
errado, ou seja, apontando a linha que não é do mesmo tamanho que a linha
padrão. O sujeito avaliado desconhece essa associação dos pesquisadores. Nessa
situação, o indivíduo testado tem duas alternativas: ou ele diz a resposta
certa (que é fácil de responder), se opondo, assim, à opinião unânime do grupo;
ou ele diz a resposta errada, se conformando, então, com os demais. Isso é
repetido várias vezes. A pesquisa de Asch mostrou que aproximadamente três quartos
dos indivíduos avaliados se deixaram influenciar, dando uma ou várias respostas
erradas em razão da influência do grupo e, consequentemente, para não se opor
aos outros.
Na ausência de pressões do grupo as respostas
corretas chegaram aos 92%. Os indivíduos entrevistados depois da experiência
diziam ter depositado uma confiança na maioria, afinal, todos diziam que tal
linha era a igual e apenas ele dizia que não.
Tal experimento demonstrou que o indivíduo abre
mão de sua percepção e entendimento por causa da adesão da maioria a uma
resposta. Outros afirmaram conformar-se com a opinião do grupo para não parecerem
inferiores ou diferentes. Com esse experimento, demonstrou-se ser possível
mudar a percepção de um grupo minoritário de pessoas. O que ocorreu nessas
experiências dos indivíduos é que ao aderirem às respostas erradas eles se
sentiam libertos da pressão psicológica do grupo. Ocorre, porém, que na
sociedade as pressões psicológicas são muito mais intensas e de múltiplos
aspectos, e para aliviar o estresse psicológico vivenciado por se sentir
diferente, inferiorizado, contrário ao pensamento e comportamento da maioria,
os indivíduos acabam adotando ações e percepções apresentadas pelo grupo (ou
sociedade) a fim de, assim, se livrarem de seus desconfortos psicológicos.
A técnica “porta na cara”, por sua vez, consiste
em apresentar inicialmente a um indivíduo um pedido exorbitante, exagerado, que
obviamente será recusado. Em seguida se faz um segundo pedido e este é, na
maioria das vezes, aceito. Uma pesquisa pedia para alguns estudantes
acompanharem um grupo de jovens delinquentes por duas horas em um zoológico.
Quando formulada diretamente, essa solicitação teve adesão de 16,7%. No
entanto, quando colocada após um pedido exorbitante, a taxa de adesão subiu
para 50%. Em sala de aula, um professor pode propor inicialmente um trabalho
que sabe ser absurdo e será amplamente rejeitado pelos alunos, mas, em seguida,
disfarçando-se de democrático ou receptivo às sugestões dos alunos, o professor
propõe então algo menos exorbitante e, assim, se tem adesão de boa parte da
turma. Soma-se a isso que os que não aderirem de início irão aderir por pressão
da maioria. Mas o objetivo principal do professor sempre foi estabelecer a
segunda proposta apresentada.
Essas técnicas podem extorquir de alguém atos que
contradizem seus valores, percepções e sentimentos. A criação de uma
“dissonância cognitiva” em um indivíduo é outra técnica psicológica utilizada
na educação, atuando em conjunto com muitas outras. “Uma dissonância cognitiva
é uma contradição entre dois elementos do psiquismo de um indivíduo, sejam
eles: valor, sentimento, opinião, recordação de um ato, conhecimento, etc.” (p.
23). As pesquisas mostram que um indivíduo em uma situação de dissonância cognitiva
tem a forte tendência de reorganizar seu psiquismo com o objetivo de reduzir
essa dissonância, isto é, o desconforto e o estresse que isso gera. “Se um
indivíduo é levado a cometer publicamente (na sala de aula, por exemplo) ou
frequentemente (ao longo do curso) um ato em contradição com seus valores, sua
tendência será a de modificar tais valores, para diminuir a tensão que lhe
oprime. Em outros termos, se um indivíduo foi aliciado a um certo tipo de
comportamento, é muito provável que ele venha a racionalizá-lo. [...]
Dispõe-se, assim, de uma técnica extremamente poderosa e de fácil aplicação,
que permite que se modifiquem os valores, as opiniões e os comportamentos e
capacita a produzir uma interiorização dos valores que se pretende inculcar.
Tais técnicas requerem a participação ativa do sujeito, que deve realizar atos
aliciadores os quais, por sua vez, os levarão a outros, contrários às suas
convicções” (p. 24).
Essas e muitas outras técnicas que Bernardin
expõe em seu livro são evidenciadas nas práticas pedagógicas sugeridas pelas
entidades internacionais, conduzidas por professores e pedagogos (que também passam
por capacitações para serem instrumentos desses interesses) e que são capazes
de criar dissonâncias cognitivas e subsequentemente a alteração de valores nos
educandos.
O autor identifica ao longo da exposição desses
documentos as técnicas de manipulação psicológica, explícitas e implícitas,
usadas na educação. Exemplos de tais práticas pedagógicas ou lúdicas que podem
estar a esse serviço são a dramatização de um determinado assunto em sala de
aula. Pesquisas mostram que o papel assumido pelo ator (estudante) tem grande
capacidade de aliciá-lo a adotar tal comportamento dramatizado. Um exemplo
recente disso pode ser analisado neste vídeo.
As discussões em grupos nas salas de aula, por
sua vez, podem colocar em prática as técnicas que se aproveitam da tendência ao
conformismo para aliviar a pressão psicológica sofrida por pensar diferentemente
da maioria. Ou as avaliações com respostas de múltipla escolha, cujas
alternativas já estão encaixadas dentro de uma perspectiva ideológica fazendo
com que o aluno assinale uma resposta como certa mesmo que ela seja contrária
aos seus valores e até mesmo às suas percepções em relação a determinado
assunto. Técnicas de recompensa com boas notas, elogios públicos, redação de
textos sobre determinados assuntos, e muitas outras, são alguns exemplos sobre
a capacidade que as ferramentas da psicopedagogia têm para levar o sujeito da
avaliação (estudante) a interiorizar as novas normas sociais, novos valores e
comportamentos. Por meio desses mecanismos, o aluno, ao longo de um processo
diário, vai imperceptivelmente aderindo a esses valores de uma agenda de
esquerda, seja por pressão coletiva, em razão da autoridade do professor, ou,
principalmente, para evitar o desconforto psíquico que ele experimenta. Outro
exemplo recente disso você pode verificar aqui.
Todas essas questões no livro são muito bem
documentadas com as citações de diversas publicações da ONU e da Unesco, entre
outras, e que podem muito bem ser conferidas por qualquer um que se dispuser a investigar
o assunto. Tais documentos estão traduzidos para o português e com uma rápida
busca no Google pode-se lê-los na íntegra e averiguar, então, seus conteúdos
carregados de uma ideologia globalista e seus valores pouco ou nunca antes
vividos pelas sociedades.
No capítulo 5, “A Revolução Ética”, Bernardin
demonstra de que modo tais objetivos de inserir novos valores éticos
pretensamente de aplicação global, isto é, de cima para baixo, são aplicados em
todos os países do mundo que aderem a essas diretrizes internacionais. Como,
então, transmitir esses novos valores com mais ímpeto e eficácia às sociedades?
Como inseri-los na vida pessoal dos indivíduos? Além das estratégias
psicopedagógicas já destacadas, o autor demonstra, no entanto, que inicialmente
se deve bloquear a transmissão dos antigos valores de uma geração a outra. Esse
bloqueio é de fundamental importância para se inserir, então, esses novos
valores.
Isso significa que instituições com as quais as
crianças e os adolescentes têm contato mais direto e primário, tais como a
família (juntamente com a instituição religiosa em que essa família participa),
precisam então ser alteradas. A influência da família precisa ser neutralizada o
máximo possível para que os antigos e tradicionais valores de seus pais e avôs
não lhes sejam então transmitidos, deixando, então, esse papel quase que
unicamente para a escola ou universidade com as suas estratégias adotadas para
inserir novos valores disfarçados de pedagogia.
Não é de se admirar, portanto, que os velhos
objetivos do pensamento marxista, apresentado no Manifesto Comunista, de
desestruturar e destruir a família e a propriedade privada, assim como o papel
da religião como fonte de valores morais, ainda estejam em curso. O que vemos a
cada dia são os ataques diretos e indiretos contra a instituição familiar e
suas bases, a mais antiga instituição existente na humanidade e por meio da
qual a civilização tem sua continuidade.
Quando novas propostas de família são apresentadas,
com novos formatos alternativos e quantitativos de membros, o que se tem é uma
forma de se interromper a transmissão de valores, da propriedade privada e
outros legados familiares. Além disso, outra forma de bloquear essa transmissão
é que a escola não se limite a influenciar apenas a criança, mas também seus
pais, de modo que quando não totalmente neutralizados em sua influência sobre
os filhos, eles se tornem, então, objeto dessa revolução “ética” e passem a
agir e garantir que estes novos valores sejam assegurados aos próprios filhos em
um longo prazo de tempo. Enquanto isso, a contínua desestruturação da família
para impedir que os valores sejam transmitidos é ainda uma fase para poder
controlar os valores.
Como bem destaca Bernardin, “a ruina dos valores
morais é tão somente uma consequência, escolhida deliberadamente e
conscientemente assumida, de um projeto de subversão dos valores que não se
pode realizar em um prazo muito breve. Desse modo, a escalada da criminalidade,
da insegurança, da delinquência, do consumo de drogas, a desestruturação
psicológica dos indivíduos que se seguiu ao aviltamento moral e à consequente
destruição do tecido social são as consequências de uma política consciente.
Portanto, a manobra destinada a modificar os valores articula-se assim:
inicialmente, impedir a transmissão, especialmente por meio da família, dos
valores tradicionais; face ao caos ético e social daí resultantes, torna-se
imperativo o retorno a uma educação ética – controlada pelos Estados e pelas
organizações internacionais, e não mais pela família. Pode-se, então, induzir e
controlar a modificação dos valores. Esquema revolucionário clássico: tese,
antítese e síntese, que explica a razão por que, chegada a hora, os
revolucionários se fazem os defensores da ordem moral” (p. 66).
No capítulo 6, o autor demonstra, mais uma vez, por meio de
documentos, os objetivos desses órgãos internacionais de promover a utopia do
multiculturalismo, criando uma nova cultura que será capaz de englobar a todas
conjuntamente por meio de um único idioma, conforme atesta o documento da
Unesco: “Uma das questões que devem ser examinadas é a do desenvolvimento, para
essa sociedade global, de uma língua internacional que reforce e promova uma
cultura internacional. A Unesco deveria realizar um estudo específico sobre
esse assunto” (p. 71). Tal perspectiva nada mais é do que uma forma de
imposição de nova linguagem que ao longo do tempo faça desaparecer alguns
conceitos primordiais e fundamentais da existência. Não lhe surpreende o fato
de muitas pessoas, entre elas professores, já estarem escrevendo “alunxs”, ao
invés de “aluno”, ou “professorxs”, ao invés de “professor”, a fim de
neutralizar o sujeito? Ou, para ficar com o exemplo de George Orwell, em seu
clássico 1984: “A cada ano, menos e
menos palavras, e o campo da consciência mais e mais restrito.” Retira-se do
uso ao longo do tempo palavras como “liberdade”, “Deus”, “comunidade”,
“família”, “homem”, “mulher”, e se terá uma geração que, desconhecendo tais
palavras, desconhecerão também seus conceitos e funções, juntamente com o que
elas representam.
Outro capítulo interessante do livro é o 7, que investiga as
tentativas de se reescrever a história e, assim, amputar das culturas todo o
seu passado peculiar, isto é, suas próprias raízes, e impedir sua ligação e a
de seus indivíduos com seu passado e, consequentemente, com o passado de seu
povo. Como declarado na 4ª Conferência dos Ministros da Educação, da Unesco, promovida
para tomar tais medidas para as futuras gerações, foram feitas as seguintes
proposições: “Elaboração de um manual de história geral da Europa, bem como um
manual de história universal, com a ativa participação dos comitês de
historiadores dos países interessados” (p. 73). E como a própria Unesco
reconheceu, as sociedades mais aptas para promover tais mudanças são aquelas
mais maleáveis e abertas às novidades. “Tais sociedades se beneficiam da
participação ativa dos cidadãos no processo de aprendizagem. Ao longo dessa
aprendizagem, a história deverá ser reescrita e reinterpretada” (p. 75). George
Orwell já expressou de modo singular o entendimento de que “quem controla o
passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado”.
Ao longo de todo o livro é demonstrado como os professores e a
própria pedagogia são vistos como instrumentos dessa revolução que busca
transformar as sociedades e promover nos seus membros os comportamentos e
conceitos de uma cosmovisão materialista comunista, porém, disfarçada pela
ideia de progresso moral, social e intelectual, envolta em belos ideias de paz,
harmonia entre os povos, direitos infindáveis, pacifismo, ecologismo,
tolerância, ecumenismo religioso, etc.
Essa revolução global em curso se dá pela internacionalidade
dessas entidades e por meio do poder conferido a elas para ditar as diretrizes
e os objetivos da educação nos países, oferecendo normas, práticas pedagógicas,
materiais de estudo, etc. O objetivo em longo prazo é apresentado pelos
próprios documentos da Unesco: “O ponto mais importante é que deveria haver um
currículo universal, internacional e padrão, estabelecido sob os auspícios das
Nações Unidas. Em particular, esse currículo padrão deveria ser difundido a
partir das séries de manuais escolares padronizados elaborados sob os auspícios
das Nações Unidas. [...] Enquanto uma geração não tiver recebido os
ensinamentos de um currículo internacional padrão, todos raciocinarão segundo
os velhos esquemas mentais que, por fim, são fatais para a humidade. Assim,
desejamos receber a anuência voluntária dos diferentes parceiros da educação,
famílias, organizações profissionais, associações religiosas e culturais,
administrações e exército. Para o bem de todos, desejamos receber seu apoio na
internacionalização e padronização da educação” (p. 84).
O que se tem então é: diminuição da influência da
família na formação intelectual e moral da criança/adolescente (vide propostas
como, por exemplo, retirar a celebração de dia dos pais e dia das mães das
escolas de São Paulo. Confira); o aumento da influência maciça da
escola nessa formação e transmissão de valores, reestruturação da linguagem, o
poder do Estado sob a escola, a reescrita da história, apoio voluntário de
organizações e até mesmo da religião na adesão desses novos valores e
comportamentos defendidos por uma agenda de esquerda, entre os quais podem ser
destacados o ateísmo, as novas formas de família, a legitimação jurídica e
moral do aborto, a promoção do multiculturalismo, o controle do conhecimento a
respeito do passado, e todas as suas facetas.
Maquiavel Pedagogo expõe de modo
claro quais são os reais objetivos
dos sistemas educacionais que aderem às diretrizes internacionais ditadas pelas
entidades mencionadas ao longo do livro. A educação em diversos países, entre
eles o Brasil, não tem mais o papel de realizar uma formação intelectual, cognitiva
do indivíduo, mas antes modificar os valores, as atitudes e os comportamentos,
e realizar, assim, uma revolução psicológica, “ética” e cultural, retirando a
autonomia nacional dos países de ter uma educação que condiga com sua realidade
histórica, tradicional e cultural.
Nesse sentido, o livro é de fundamental
importância para aqueles que não compactuam com esses valores de uma cosmovisão
comunista e almejam conservar a boa educação baseada nos valores tradicionais.
Destaco, assim, a importância desse livro para se ajudar a preservar a educação
adventista das influências dessas diretrizes. Precisamos estar atentos a essas
influências que se apresentam, estando disfarçadas como ideais de progresso, de
evolução qualitativa e de melhoria social. O livro vale a pena ser lido e discutido
por nossos educadores adventistas, contribuindo para que possam identificar
essas estratégias e evitar que elas adentrem na Rede Adventista de Educação
presente em mais de 160 países e com quase dois milhões de alunos e 90 mil
professores. Só no Brasil, temos 450 unidades escolares e cinco instituições de
ensino superior, e por isso precisamos estar atentos a essas tendências
educacionais mundiais e nos conservarmos enquanto instituição que preza pelos
valores divinos.
Essas e muitas outras estratégias em curso,
muitas delas com os objetivos já alcançados, são sutis e podem passar por despercebida
essa introdução dos valores da agenda de esquerda em nossas escolas e
universidades. A religião não está imune a tal influência.
Destaco, como exemplo, o que já aconteceu nas
instituições católicas por meio da proximidade que uma parte de seus
representantes teve nos últimos mais de quarenta anos com as políticas de
esquerda na América Latina por meio da Teologia da Libertação. É notável como
são maleáveis essas estratégias para atingir seus objetivos e inserir esses
valores e comportamentos em todas as esferas da vida pessoal e social. Enquanto
que na antiga União Soviética essa agenda pregava o ateísmo como “religião”
oficial do governo, aqui na América Latina eles se mesclaram com a religião e
praticamente tomaram conta das estruturas do catolicismo por meio de trabalhos dos
teólogos da libertação, como Leonardo Boff, Frei Beto, entre outros, de modo
que hoje o catolicismo tenta, aqui e ali, se limpar desses discursos
esquerdistas em suas paróquias, colégios e faculdades, mas parece ser um
trabalho de enxugar gelo, uma vez que até mesmo o seu próprio representante, o
papa Francisco, tem sido um propagador de tais valores de uma agenda global
esquerdista (confira). O exemplo do que aconteceu no catolicismo
demonstra como tais estratégias se infiltram em todos os aspectos da sociedade
e, por isso, deve chamar nossa atenção para evitarmos que isso ocorra também no
adventismo.
A pedagogia, a psicologia, a ética e a religião são
áreas do conhecimento e da vida humana de fundamental importância, porém, podem
e são frequentemente usadas como instrumentos a serviço de valores que são
incompatíveis com os valores éticos, educacionais e religiosos que, como
adventistas do sétimo dia, preservamos e defendemos, e que são conservados e transmitidos
não apenas no púlpito, mas também em nossas editoras, por meio de revistas,
livros, lições de estudos das Escrituras, em nossos hospitais, na mídia, mas,
principalmente, em nossas escolas, colégios e universidades.
O livro Maquiavel
Pedagogo, portanto, é uma leitura indispensável para o educador atento às
pressões sociais e governamentais colocadas tanto em nossas instituições de
ensino quanto em nossas famílias, situando-o e auxiliando-o na identificação
dessas estratégias e em como evitar uma adesão inconsciente a elas.
BERNARDIN, Pascal. Maquiavel Pedagogo: ou o ministério da reforma psicológica.
Tradução de Alexandre Muller Ribeiro. 1 ed. Ecclesiae e Vide Editorial.
Campinas, SP: 2013.
(W. Oliveira é doutor em Filosofia)