Um mistério para a evolução |
Enquanto
nos homens a função é clara - transferir o esperma -, o objetivo biológico do
clímax feminino, que não é necessário para a concepção, intrigou cientistas e
filósofos por mais de dois mil anos. Nesta semana, pesquisadores chegaram a uma
nova teoria [melhor seria dizer “hipótese”]: um ancestral antigo precisava
dessa forte descarga hormonal para induzir a ovulação, liberando assim os ovos
para a fertilização. “O orgasmo feminino parece ser um reflexo tardio e feliz
do nosso passado evolutivo”, disse um comunicado da Universidade de Yale, que
participou do estudo publicado nesta semana na revista Journal of Experimental Zoology. “O orgasmo feminino humano é um
resquício evolutivo da ovulação induzida”, disse à AFP Gunter Wagner, coautor
do estudo e biólogo de Yale. A equipe usou pesquisas publicadas para criar um
modelo evolutivo da ovulação em animais.
Em
muitos mamíferos, a liberação dos hormônios prolactina e oxitocina está ligada
à ovulação, enquanto nos seres humanos esta acompanha o orgasmo feminino,
revelaram os pesquisadores. “Interpretamos
que essa evidência sugere que as alterações fisiológicas provocadas pelo
orgasmo humano feminino são homólogas àquelas que causam a ovulação em outras
espécies”, concluíram.
Se
outros animais têm orgasmos ou não continua sendo, em grande parte, um
mistério, embora se saiba que os machos induzem a ovulação em algumas espécies
de mamíferos, incluindo coelhos e gatos. O modelo mostrou que em um antigo
ancestral comum dos mamíferos, que viveu há cerca de 60 milhões de anos, as
fêmeas precisavam da estimulação masculina para induzir a ovulação. Essa
característica foi mais tarde substituída em algumas espécies por uma ovulação
cíclica ou espontânea, como ocorre com os seres humanos hoje.
Isso
provavelmente aconteceu na época da ascensão dos primatas - o grupo de animais
ao que os seres humanos pertencem [sic]. “O orgasmo feminino não evoluiu na
linhagem humana, mas pode ter
adquirido papéis adicionais”, depois que já não era mais necessário para a
ovulação, como o fortalecimento do vínculo entre os parceiros, segundo o
estudo.
Conforme
a ovulação se tornou espontânea, a configuração dos órgãos genitais femininos
também mudou, acrescenta. O clitóris “se realocou a partir da sua posição
ancestral dentro do canal copulatório”, onde permanece hoje em muitos animais,
mas não em seres humanos ou macacos. “Isso pode ajudar a explicar por que
muitas mulheres não têm orgasmos durante a relação sexual, mas são capazes de
atingir o orgasmo com a masturbação ou com a estimulação do clitóris na relação
sexual”, destaca o estudo.
Nota:
Já tratei desse tema da origem do orgasmo feminino (confira aqui e aqui), mas, como a mídia trouxe o assunto de volta, vamos lá:
1. O
texto acima diz que “um ancestral antigo precisava dessa forte descarga
hormonal para induzir a ovulação, liberando assim os ovos para a fertilização”.
Pergunto: O que teria surgido primeiro: o hormônio, o indutor do hormônio, os
óvulos, o sistema reprodutor feminino, os neurônios especializados nessa função...?
Você percebe que estamos diante de um sistema de complexidade irredutível, em
que, se faltar um elemento, o todo não funciona? E se não funcionasse bem na
primeira vez não estaríamos aqui falando sobre isso? Os evolucionistas tratam
do assunto como se fosse algo simples de acontecer. Os elementos do sistema
estavam todos lá, bastando serem conectados. Eles não conseguem sequer dar uma
resposta satisfatória para a origem dos sexos e da sua interdependência
funcional e perfeita adequação, quanto mais para a origem de sensações
complexas como o orgasmo, que não é necessariamente imprescindível para a
reprodução ou mesmo para a suposta evolução das espécies.
2.
A matéria acima diz também que “o modelo mostrou que em um antigo ancestral
comum dos mamíferos, que viveu há cerca de 60 milhões de anos, as fêmeas
precisavam da estimulação masculina para induzir a ovulação”. Muitos
comportamentos de seres vivos hoje ainda são misteriosos para os cientistas – o
próprio orgasmo ainda é –, mas eles querem que creiamos que sabem “tudo” sobre
supostos ancestrais que teriam vivido há supostos milhões de anos e dos quais
sobraram (se sobraram...) apenas fósseis! Outro ponto complicado é um gênero
depender do comportamento do outro gênero para que a reprodução ocorresse. Quem
aprendeu primeiro? E até que aprendesse, como aquela espécie “se virava”? Outra
coisa: a hipótese do ancestral comum é ainda muito controversa, e note que, no
caso acima, é puramente baseada em um “modelo”. A lógica é mais ou menos a
seguinte: (a) em algumas espécies, a ovulação depende da estimulação do macho; (b)
seres humanos teriam um ancestral comum com algumas espécies que se supõe
tinham esse comportamento sexual; (c) logo, seres humanos herdaram o orgasmo
como um resquício prazeroso do suposto comportamento desses supostos ancestrais.
Gostou da “explicação”?
3. O
texto acima diz mais: “O clitóris ‘se realocou a partir da sua posição
ancestral dentro do canal copulatório’, onde permanece hoje em muitos animais,
mas não em seres humanos ou macacos. Mais lógica evolucionista: (a) o clitóris
está dentro do canal copulatório em alguns animais; (b) compartilhamos
ancestralidade com alguns desses animais; (c) logo, o clitóris na espécie
humana teria “migrado” do interior para o exterior do órgão sexual. Essa
conclusão só pode ser tirada se adotarmos a hipótese de que seres humanos,
cujas fêmeas têm clitóris externos, teriam evoluído de animais cujas fêmeas têm
clitóris internos. Todo o raciocínio parte de uma premissa não demonstrável nem
verificável. Frágil assim.
Em outro artigo sobre o assunto, publicado no jornal The Guardian, uma das entrevistadas, Elizabeth Lloyd, professora de biologia da Universidade de Indiana e autora de O Caso do Orgasmo Feminino: Preconceito na Ciência da Evolução, disse: “Além do prazer, parece não haver um objetivo. Mas isso não significa que o orgasmo feminino não seja importante. Ele simplesmente não parece ter uma função evolutiva.”
Em outro artigo sobre o assunto, publicado no jornal The Guardian, uma das entrevistadas, Elizabeth Lloyd, professora de biologia da Universidade de Indiana e autora de O Caso do Orgasmo Feminino: Preconceito na Ciência da Evolução, disse: “Além do prazer, parece não haver um objetivo. Mas isso não significa que o orgasmo feminino não seja importante. Ele simplesmente não parece ter uma função evolutiva.”
Note
que tudo é baseado em premissas e construções filosóficas que alimentam modelos,
não em achados científicos. Primeiro, porque os tais ancestrais comuns são
meramente hipotéticos; segundo, porque mesmo que existissem, tudo o que
teríamos seriam os fósseis deles para ser analisados, e fósseis dificilmente
contêm partes moles como um clitóris para ser estudadas. Pelo menos, no texto
acima, são usadas palavras como “interpretação” e “pode”, dando um vislumbre de
que as conclusões não são assim tão confiáveis. Logo, a origem do orgasmo
feminino (assim como a gestação, por exemplo continua sendo um mistério à luz da teoria da evolução, mas não do
criacionismo, que entende o sexo como um presente dado pelo Criador a fim de
promover a perpetuação da espécie, unir o casal e dar-lhe prazer nesse
relacionamento abençoado. Simples assim. [MB]