A triste situação de um Brasil sexualmente doente

Três matérias que me foram enviadas por um leitor (aliás, muito obrigado a todos os leitores/colaboradores que me enviam diariamente sugestões de postagens; graças a vocês, meu trabalho de “garimpagem” de informação é grandemente facilitado) chamaram minha atenção pelo contraste entre a ficção e a realidade, quando o assunto é sexo e relacionamento. A primeira delas trata de um livro que sugere que a traição seria a chave para um casamento feliz. The New Rules: Internet Dating Playfairs and Erotic Power (As novas regras: namoro pela internet, ‘playfairs’ e o poder erótico), da cientista social Catherine Hakim, traz em suas páginas a teoria de que ter um caso extraconjugal pode, na realidade, “ser a chave para melhorar o relacionamento a dois”.

Segundo a matéria, Hakim chega a comparar o sexo extraconjugal a uma refeição em um restaurante. “Apesar de, na maioria das vezes, nos contentarmos em comer em casa com nossos companheiros e companheiras, nada nos impede de fazer algumas refeições em restaurantes com diferentes culinárias e ambientes, na companhia de amigos e colegas”, explica ela. “Qualquer pessoa que rejeita uma nova abordagem para casamento e adultério, com uma nova gama de regras regendo esses tipos de relacionamento, não reconhece os benefícios de uma vida sexual revitalizada e fora de casa”, completa Hakim, sobre sua teoria “gastronomicamente” libertina. A cientista, no entanto, não aconselha os amantes a deixar o traído ou a traída descobrir sobre o caso, promovendo, além da traição, a mentira.

A segunda matéria é um show de relevância “‘Avenida’: Suelen transa com Leandro e Roni sugere relacionamento aberto” – mas não deixa de dar sua parcela de contribuição para a deseducação dos telespectadores de novelas. Note a trama “criativa”: “Tudo começa quando Roni nega fogo para a esposa, que está em ponto de ebulição. Assim que recebe o toco do maridão, Suelen vai até a laje de casa tomar um banho de mangueira para se refrescar. Leandro aparece por lá, os dois não resistem e acabam transando.”

“Para surpresa de Leandro”, diz a matéria, “Roni não fica chateado e dirá que Suelen sempre foi dele. No capítulo do dia 7, ele dirá à esposa que sabe da traição. [...] Ela vai ficar impressionada e pedirá desculpas, mas Roni dirá que não vê nenhum problema e que não quer que o amigo saia da casa deles. ‘Agora, cada um de nós fica com quem quiser ficar, sem problema, sem culpa. Ninguém força a barra, ninguém fica chateado’, sugere Roni.”

Saindo da ficção para a realidade, a terceira matéria; mostra o que tem acontecido na vida real e escancara a triste realidade das pessoas que não vivem por princípios, mas por conveniências e por instintos. Segundo a reportagem, Latino disse que a namorada espera dele muito mais “lealdade” do que “fidelidade”, já que ela não acredita que um homem possa ser completamente fiel. “O que ela busca em mim é a lealdade mais que a fidelidade”, diz ele. “Somos amigos, ela me chama de ‘pai’. E ela mesma já me disse que não acredita que existe homem fiel. Já falei: pode passar uma mulher horrível na minha frente, que vou olhar. É mulher? Eu sempre vou olhar.”

Latino tem quatro filhos, cada um de um relacionamento diferente. Os mais famosos foram o casamento com a cantora Kelly Key e com a dançarina Mirella Santos. Nenhum dos dois casos terminou bem. O cantor chegou a processar Kelly, exigindo parte daquilo que a cantora ganhou enquanto estavam juntos e vive trocando farpas com Mirella, hoje casada com o humorista Ceará, do Pânico. Com essa visão da vida (de lealdade sem fidelidade!!!), não é de estranhar que Latino tenha dois casamentos e dois relacionamentos naufragados. Tenho pena mesmo é dos quatro filhos (e de outros que talvez virão), já que, como mostra a história, tenderão a repetir a triste história dos pais ou, no mínimo, aprenderão que casamento é “coisa ruim”.

Em tempos de Cinquenta Tons de Cinza, com todo o incentivo ao sexo pervertido e à infidelidade, o que podemos esperar desta geração já sexualmente doente?[MB]

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