No ótimo livro Por que a Ciência Não Consegue Enterrar Deus (p. 56), o matemático e professor de
Oxford, John Lennox, apresenta uma ilustração interessante que ajuda a entender
o propósito da ciência e da religião. Trata-se do bolo da tia Matilde. Segundo
Lennox, se o bolo, depois de pronto, fosse levado a um químico, ele poderia
analisar suas propriedades químicas, as reações ocorridas em seu preparo. Se
fosse levado a um físico, este analisaria as partículas do bolo e sua
consistência. Outros cientistas fariam análises semelhantes do bolo a partir de
sua área de pesquisa. Mas se fosse perguntado a todos eles por que a tia
Matilde fez o bolo, nenhum saberia responder. Eles poderiam dizer muita coisa
sobre a estrutura do bolo, mas nada a respeito do propósito dele.
Assim ocorre com a ciência: ela pode nos dizer muita coisa a
respeito do como. E assim ocorre com
a religião, que pode nos ajudar a entender o porquê. Se ignorarmos deliberadamente uma delas, ficaremos sem
importantes respostas sobre o mundo que nos rodeia. O criacionismo bíblico
procura estabelecer essa interface entre ciência e religião (ou teologia
bíblica), porque parte do pressuposto de que as duas, corretamente entendidas,
são complementares.
Pense bem: como poderíamos, afinal, conhecer o propósito para
o qual a tia Matilde teria feito o bolo? Simples: apenas se ela mesma revelasse
esse propósito. No entanto, mesmo essa revelação teria que fazer sentido, ser
racional e lógica. Por exemplo: se soubéssemos que Matilde não tem filhos e ela
dissesse que havia feito o bolo para o filho, imediatamente notaríamos a
incoerência. Mas, se ela de fato tiver um filho e ele estiver de aniversário, a
revelação do propósito fará todo o sentido.
Para o criacionista, a Bíblia é a revelação confiável dos
propósitos de Deus porque, entre outros motivos, passa no teste da
racionalidade (a história, as profecias detalhadamente cumpridas e a
arqueologia estão aí para confirmar isso). Assim como Isaac Newton e tantos
outros cientistas do passado e do presente, os criacionistas entendem que a
ciência e a teologia – corretamente compreendidas, repito – são as duas lentes
dos óculos com os quais podemos enxergar as respostas mais adequadas e
satisfatórias para o como e o porquê.
O advogado e professor Phillip Johnson, em seu contundente
livro Darwin no Banco dos Réus (p.
21), sustenta que “‘evolução’ pode significar qualquer coisa desde a declaração
não controversa de que a bactéria ‘desenvolve’ resistência aos antibióticos à
grande afirmação metafísica de que o Universo e a humanidade ‘evoluíram’
inteiramente por forças mecânicas sem propósito. Uma palavra elástica assim é
capaz de induzir ao erro, dando a entender que sabemos tanto sobre a grande
afirmação quanto sabemos sobre a pequena afirmação”.
Resumindo, o darwinismo (a despeito das várias compreensões a
respeito do que seja “evolução”) é um modelo naturalista, ou seja, está
teoricamente embasado no naturalismo filosófico. Isso significa que não há
espaço para o sobrenatural em nenhum momento da História, nem mesmo na origem
de tudo. “Para um naturalista, o Universo é análogo a uma caixa selada. Tudo o
que existe na caixa (a ordem natural) é causado ou explicável em termos de
outras coisas existentes no interior da caixa. Nada, nem mesmo Deus, existe
fora dessa caixa; portanto, nada fora da caixa que chamamos Universo, ou cosmo,
ou natureza pode ter qualquer efeito causal sobre o interior da caixa” (Ensaios Apologéticos: Um estudo para uma
cosmovisão cristã, p. 251).
Lembra-se do exemplo do bolo da tia Matilde? A ciência
(método) pode explicar o como das
coisas, mas o naturalismo tenta nos fazer crer que o bolo simplesmente surgiu,
sem um propósito aparente. Porém, a
tia Matilde insiste em dizer que fez o bolo para o filho, porque ele está de
aniversário. Cientistas criacionistas respeitam o método científico e procuram trabalhar
com essa boa ferramenta, mas não dispensam as explicações da “tia Matilde”,
porque entendem que a ciência, como ferramenta humana, tem suas limitações, e a
busca da verdade tem que ser tão ampla quanto a verdade o é.
O que surpreende muita gente é que a teoria da criação tem
evidências científicas, além de religião; e o evolucionismo não é pura ciência,
tem muito de filosofia ateísta. Assim, você deve analisar qual dessas
cosmovisões responde satisfatoriamente o como
e o porquê da vida no Universo.
Michelson
Borges