Adotado
pelas histórias em quadrinhos apesar da rejeição de entidades cristãs dos EUA,
o diabo “baixou” nas bancas e livrarias brasileiras na forma de um álbum de
luxo, com 164 páginas encadernadas que (enfim) condensam para os leitores
brasileiros uma das publicações mais polêmicas da indústria americana de gibis
da década passada. Desaconselhada para menores de 18 anos, “Lúcifer – O diabo à
porta” (editora Panini) reúne pela primeira vez no Brasil, em edição para
colecionadores, as aventuras terrenas do Senhor das Trevas, convertido em
anti-herói de HQ por sugestão de Neil Gaiman, que fez dele um coadjuvante da
série “Sandman”, da editora DC Comics. Recém-lançada, a coletânea da Panini
traz as histórias que celebrizaram o roteirista inglês Mike Carey (apadrinhado
por Gaiman) e o puseram na mira de entidades religiosas. Em 2005, o gibi
apareceu na lista de publicações que associações de pais ligados a escolas
cristãs repudiavam, ao lado da minissérie “Chosen: o escolhido”, de Mark
Millar, sobre um Jesus Cristo jovem.
“Lúcifer
é alguém que vai aonde quer e compra brigas onde quer que elas estejam, pois geralmente ele sai delas como vencedor”,
disse Carey à época em que publicou a minissérie “The Sandman presents:
Lucifer: The Morningstar option” (1999), cujas três edições, desenhadas por
Scott Hampton, abrem a edição brasileira. “O Lúcifer de Mike Carey é mais
manipulador, charmoso e perigoso do que eu esperava”, diz Gaiman no prefácio
para o álbum da Panini.
Na
primeira saga do quadrinho, “Alternativa Estrela da Manhã”, Lúcifer deixou o
inferno, instalou-se em Los Angeles e abriu um piano-bar, onde toca clássicos
do jazz para uma freguesia sedenta por vinhos octogenários. Na trama, ele é
obrigado a fazer um favor aos céus que envolve ajudar uma adolescente de origem
indígena a entender o que foi feito da alma de seu irmão. “Acho que a maior
preocupação de ter um gibi estrelado pelo diabo (mesmo um diabo entediado,
cansado, aposentado) era que isso pudesse levar alguém a botar fogo na sede da
DC”, escreveu Gaiman.
Além
de “Alternativa Estrela da Manhã”, a edição brasileira reúne a minissérie “Seis
cartas sobre a mesa”, escrita por Carey e desenhada por Chris Weston, na qual
Lúcifer esbarra com neonazistas em solo alemão ao acertar contas com uma
entidade celeste refugiada numa livraria. Fecha o álbum a trama “Nascida com os
mortos”, sobre uma adolescente morta, desenhada por Warren Pleece.
(O Globo)