Um
juiz do Vaticano ordenou que o ex-mordomo do papa Bento XVI Paolo Gabriele seja
processado por roubo. Ele é acusado de ter vazado documentos do apartamento
particular do pontífice, fato que desencadeou acusações de corrupção dentro do
Vaticano. Nos aposentos de Gabriele teriam sido encontrados, além de documentos
do papa, um cheque de 100 mil euros para Bento XVI, uma pepita de ouro e uma
tradução de Eneida, de Virgílio, do século 16. As acusações descritas na
denúncia de 35 páginas incluem, pela primeira vez, um segundo empregado do
Vaticano que também estaria envolvido no caso. Claudio Sciarpelletti, de 48
anos, especialista em computação, foi acusado de cumplicidade. Anteriormente, o
Vaticano havia informado que Gabrielle era o único investigado.
Sciarpelletti
é descrito no documento como amigo próximo de Gabriele, de 45 anos, com um
papel limitado no caso. Ele passou uma noite na prisão depois que um envelope
contendo material confidencial foi encontrado em sua escrivaninha.
O
porta-voz do Vaticano, reverendo Federico Lombardi, disse a jornalistas que,
com base nas leis do Vaticano, o papa poderá perdoar os dois acusados.
Informou, porém, que não sabe ainda o que o pontífice fará. Lombardi disse que
os dois homens provavelmente serão julgados em um único processo, mas não antes
do fim de setembro. Isso porque o tribunal está em recesso até 20 de setembro.
Gabriele,
que era encarregado de servir as refeições do papa e ajudá-lo a colocar suas
pesadas vestes clericais, poderá ser condenado a uma pena de até seis anos de
prisão. De acordo com o documento assinado pela acusação, ele admitiu ter se
apossado dos documentos.
O
caso vem incomodando o Vaticano desde janeiro, quando os documentos vazados
começaram a surgir em jornais italianos e na TV, mostrando lutas internas de poder e dando de detalhes de uma suposta
corrupção. Em maio, o jornalista Gianluigi Nuzzi publicou um livro contendo
material aparentemente baseado em documentos roubados do escritório do papa.
De
acordo com a acusação, Gabriele, que foi preso em maio, disse aos
investigadores que se apossou dos documentos porque achava que o papa não sabia
do “mal e da corrupção” que ele quis
expor e eliminar. “Vendo o mal e a corrupção por toda a parte na Igreja,
finalmente cheguei a um ponto em que não consegui mais me controlar”, afirmou
Gabriele.
O
ex-mordomo disse à acusação acreditar que “um choque, talvez por meio da mídia”,
seria uma “maneira saudável” de trazer a
Igreja de volta aos trilhos. Sob certos aspectos, teria dito aos
investigadores, ele se via como um
“espião” agindo em nome do Santo Espírito.
De
acordo com a acusação, Gabriele contou que teria retirado documentos, cheque,
pepita de ouro e a tradução da Eneida, de Virgílio, do escritório do papa por
causa do “agravamento do meu problema”, sem especificar qual era a questão.
(Estadão)