Quando
cheguei à Casa Publicadora Brasileira (CPB), em 1998, era um jovem de 26 anos,
recém-graduado em Jornalismo, recém-casado, cheio de sonhos e planos, mas
precisava ser moldado e “comer muito feijão com arroz” para que pudesse me
tornar digno de ocupar a função para a qual havia sido chamado: editor na maior
entre as sessenta editoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia espalhadas pelo
mundo! Trata-se de um púlpito muito elevado e, na verdade, por mais que os anos
passem, nunca estamos devidamente prontos para tamanha responsabilidade. Fazemos
o que fazemos somente pela misericórdia de Deus.
Lembro-me,
como se fosse hoje, do dia em que desembarquei do ônibus em frente à editora, a
fim de realizar a entrevista e o teste que revelariam se eu iria trabalhar ali
ou não. Dentro do Viação Cometa, vindo de São Paulo a Tatuí, reconheci um dos
editores da CPB, o pastor e jornalista Zinaldo Santos. Confesso que meu coração
acelerou. Eu conhecia todos os editores que trabalhavam na CPB. Na verdade,
conhecia o rosto deles pelas fotos e lia tudo o que escreviam. Posso dizer que
sempre fui “fã” dos “escribas” da igreja. Observei aquele senhor de bigode
descer do ônibus e pensei: “Será que algum dia serei um editor como ele?” Mas
procurei afastar esse pensamento, afinal, poderia não passar no teste. Era
melhor não alimentar a ideia.
Quando
desci do veículo, logo depois do pastor Zinaldo, pude ver o logotipo metálico
da CPB majestosamente colocado em frente ao gramado da portaria externa. Lágrimas
encheram meus olhos. Somente aqueles que amam a Deus, Seus servos e Sua igreja,
podem entender a emoção que, naquele momento, tomou conta de mim. Pela primeira
vez eu estava ali, em frente à editora da igreja responsável por livros e
revistas que haviam feito tanta diferença em minha vida e contribuído para
minha conversão.
Identifiquei-me
na portaria, fui até a recepção e aguardei alguns instantes, enquanto a
recepcionista ligava para alguém. Tudo na instituição era (e é) muito bonito e
bem cuidado, desde os jardins até as instalações internas. “O melhor para
Deus”, pensei. Pouco tempo depois, ali estava ele: um senhor magro, de sorriso
gentil e de um olhar que revelava sabedoria: o pastor Rubens da Silva Lessa,
então redator-chefe da Casa Publicadora Brasileira. Ele apertou minha mão e me
conduziu até sua sala, no setor de Redação. Cumprimentamos a secretária, a
simpática Andréa, e entramos no escritório repleto de livros. Sentei-me na
cadeira diante da grande mesa de madeira. Não, na verdade me senti afundar na
cadeira, considerando-me pequeno na presença daquele homem tão culto, de
português impecável e com tantos anos de experiência ministerial e editorial.
Enquanto conversava com ele, pensava que meu futuro e da minha família
dependiam daquele momento. Orei a Deus em pensamento e coloquei tudo mais uma
vez nas mãos dEle.
Antes
de deixarmos a Redação, no fim daquele dia memorável, o pastor Lessa me levou
para conhecer a editora, mostrou-me uma sala vazia e disse, como que
profetizando ou me dando um lampejo de esperança: “Esse escritório ainda pode
ser o seu.”
Resumindo:
um longo mês depois dessa entrevista, estava me mudando para Tatuí com minha
esposa e os pouquíssimos móveis que possuíamos. Por indicação da esposa do meu
chefe, a amável irmã Charlotte, alugamos uma casa em frente à casa deles. O
casal Lessa nos adotou como filhos e nos ajudou a suportar a saudade dos nossos
familiares e da nossa Santa Catarina, tão distante. Fazíamos o culto do pôr do
sol juntos e frequentemente almoçávamos com eles. Levei algum tempo para
conseguir comprar um carro, e não foram poucas as vezes em que meu vizinho foi
à nossa casa para entregar a chave do Monza dele. “Pegue, vá dar uma volta com
sua esposa.”
Editores da CPB no ano 2000 |
Acima
de tudo, aprendi com ele que devemos ser íntegros, fiéis a Deus, à Sua Palavra
e à Sua igreja. E isso Rubens Lessa ensina por preceito e exemplo. Um
verdadeiro professor. Um verdadeiro pastor. Um verdadeiro editor. Mas,
sobretudo, um verdadeiro amigo.
Hoje
meu amigo completa 80 anos. Uma vida longa e abençoada, ainda gozando de ótima
saúde, lucidez e ânimo para continuar pregando e escrevendo sobre o amor de
Deus. Eu não poderia ter tido melhor professor!
Feliz
aniversário, pastor Lessa!
Michelson
Nota:
Aproveito para expressar minha gratidão também a outros “professores” que me
serviram de exemplo aqui na Redação da CPB e que hoje estão aposentados: ao
jornalista Ivacy Furtado de Oliveira, editor com quem tive a alegria de
trabalhar inicialmente na editoria de livros didáticos e que, igualmente, me
ensinou muita coisa; e aos editores Márcio Dias Guarda, Abigail Liedke, Lícius e Odileia Lindquist, Rubem
Scheffel, Zinaldo Santos, Francisco Lemos e Paulo Pinheiro. Cada um de vocês
deixou uma marca em minha vida e em meu ministério. Muito obrigado!