O
Departamento do Interior [dos EUA] enfrenta um processo movido por um geólogo
cristão que alega ter sido impedido de coletar rochas do Grand Canyon National
Park por causa de suas crenças criacionistas. No processo apresentado no início
deste mês, o geólogo australiano Andrew Snelling [foto ao lado] disse que a discriminação
religiosa estava por trás da decisão do National Park Service (NRS) de lhe negar
uma autorização para coletar amostras de quatro locais no parque. Snelling
esperava reunir as rochas para apoiar a crença criacionista de que uma
inundação global há cerca de 4.300 anos é responsável por camadas de rochas e
depósitos fósseis em todo o mundo. As ações da NPS “demonstram animosidade em
relação aos pontos de vista religiosos do Dr. Snelling”, alega a queixa, “e
violam os direitos de liberdade do Dr. Snelling impondo limitações de ordem religiosa
inadequadas e desnecessárias para seu acesso ao parque”.
A
ação foi arquivada no dia 9 de maio no Tribunal de Distrito dos EUA para o
Distrito do Arizona. A NPS ainda não respondeu às alegações.
De
acordo com a denúncia e sua biografia online,
Snelling obteve um doutorado em geologia pela Universidade de Sydney, em 1982,
e começou sua carreira estudando o depósito de urânio de Koongarra, no
Território do Norte da Austrália. Ele passou um tempo em indústrias de
exploração e mineração antes de se envolver com organizações que defendem o
criacionismo e não a evolução. De 1998 a 2007, Snelling foi especialista em
geologia na Fundação de Ciência da Criação, e desde então trabalhou para o Answers
in Genesis, uma organização que investiga a geologia “a partir de uma
perspectiva bíblica”. Ele também foi intérprete em mais de 30 viagens de rio no
Grand Canyon, que tem sido uma área central de estudo para geólogos
criacionistas.
A
queixa descreve Snelling como “focado primeiramente na investigação de
fenômenos geológicos na perspectiva de quem acredita na verdade do Antigo e do
Novo Testamentos”.
Em
2013, Snelling solicitou uma autorização para estudar o dobramento de
estruturas sedimentares paleozóicas em quatro locais dentro do Grand Canyon.
Ele queria coletar 60 pedras do tamanho de um punho dos locais. Depois de
buscar a opinião de vários indivíduos no meio acadêmico, a NPS negou a
autorização em 4 de março de 2014.
“Sua
descrição de como distinguir o sedimento macio de estruturas de rocha dura não
é bem escrita, atualizada ou bem referenciada”, escreveu Karl Karlstrom, geólogo
da Universidade do Novo México que coautor de um artigo de 2014 sobre a idade do
Grand Canyon, em sua revisão da proposta de NPS. “Minha conclusão geral é que o
Dr. Snelling não tem nenhum histórico científico e nenhuma afiliação científica
desde 1982.”
A
NPS disse a Snelling que havia locais alternativos fora do parque, onde ele
poderia coletar as amostras.
A
então chefe de ciência e gestão de recursos no Grand Canyon, Martha Hahn,
também advertiu Snelling de que ele seria “proibido de pesquisar no sistema de
parques nacionais”, se fosse coletar amostras sem uma licença, de acordo com a
correspondência anexa à queixa. Ele tentou novamente em 2016, apresentando uma
proposta alterada. Em vez de emitir uma licença, a NPS disse Snelling que ele
teria que primeiro obter coordenadas GPS e fotografias de cada um dos locais
propostos e enviar informações detalhadas sobre como as amostras seriam
extraídas. Snelling se recusou a fazê-lo antes de obter a autorização
solicitada, de acordo com a queixa.
“O
parque tem rotineiramente autorizado aplicações que propõem amostragem muito
mais agressiva, sem a exigência de que os pesquisadores conduzam primeiramente
uma viagem independente para encontrar cada local da amostragem com dados
específicos de GPS”, diz a queixa.
A
ação alega que o parque discriminou expressamente Snelling por causa de suas
crenças criacionistas e, ao fazê-lo, violou os direitos constitucionais de
Snelling e a Lei de Restauração da Liberdade Religiosa. [...]
Os
geólogos têm debatido calorosamente a idade do Grand Canyon. De acordo com um paper da revista Nature Geoscience (Karlstrom 2014), o rio Colorado começou a escavar
o canyon 5 a 6 milhões de anos atrás. As rochas mais antigas do Grand Canyon teriam
1,8 bilhão de anos, de acordo com NPS.
(Science)
Nota:
Sem dúvida nenhuma, trata-se de uma atitude preconceituosa e com o claro objetivo
de prejudicar uma pesquisa que pode colocar em xeque os alegados milhões de
anos de uma formação que sugere superposição rápida de sedimentos em um evento
catastrófico envolvendo muita, muita água. Se a solicitação de Snelling está de
acordo com as regras, o impedimento não é apenas da pesquisa dele, mas da
possibilidade de que se possa investigar outras possibilidades de explicação
para a origem da formação geológica. Impedimento do avançamento da ciência,
pois o objetivo dos cientistas deveria ser investigar todas as possibilidades e
não lutar pela manutenção de uma hipótese. Se o Grand Canyon foi mesmo escavado
ao longo de milhões de anos, como explicar o fato de que suas camadas são
perfeitamente plano-paralelas, não indicando atividade erosiva entre elas, mas,
sim, superposição rápida? A exposição de uma camada geológica a tantos
milhares/milhões de anos deveria fazer com que ela ficasse totalmente irregular
por conta das intempéries e outros fenômenos naturais causadores de erosão. Mas
não é isso o que se vê lá... A história parece ser outra, mas há pessoas
interessadas em que ela não seja contada. [MB]