Consequência da secularização |
O
milionário Benzies salvou o prédio da Santo Estevão, que será mantida como um
centro comunitário e espaço para atividades artísticas. Como se trata de um uso
sem fins lucrativos, a manutenção está garantida enquanto Benzies tiver vontade
de bancá-la.
Casos
como o da igreja de Santo Estevão se espalham por toda a Europa, mas raramente
têm esse final feliz. Com o declínio da frequência, muitos templos fecharam
suas portas. Ainda que as congregações tentem mantê-los em pé, a falta de
recursos para a manutenção leva à venda dos edifícios. Alguns ganham novos
usos, como teatro, centro comercial, museus. Outros são demolidos.
O
fenômeno não está ligado a uma só religião. Há templos ortodoxos de madeira
abandonados na Polônia, sinagogas centenárias apodrecendo na Hungria (a
comunidade judaica do país quase desapareceu durante o Holocausto), catedrais
católicas sendo derrubadas na Bélgica e na França, capelas luteranas esquecidas
em pequenas cidades alemãs, mesquitas precisando de restauro nos Bálcãs. A
Holanda informou o papa Francisco, no fim do ano passado, que até 2025 mil
templos católicos devem fechar por não terem mais demanda para missas,
casamentos e batizados.
Um
dos casos mais explícitos é o da Igreja Anglicana, que mingua a olhos vistos
deixando um rastro de templos abandonados, especialmente na zona rural da
Inglaterra. Em 2013, apenas 10% dos ingleses adultos declaravam ser membros de
uma igreja – na grande maioria das vezes, a Anglicana. O porcentual só não é
menor por causa dos imigrantes vindos de outros países cristãos, como romenos e
poloneses, além de africanos das novas confissões pentecostais. Esse fenômeno
migratório não altera a insegurança dos templos da Igreja Anglicana, que é
formada basicamente pelos próprios ingleses e não está ganhando novos adeptos.
Tudo
isso vem sendo registrado nos jornais europeus. O Cristianismo, responsável por
erguer a maioria dos templos que estão sendo abandonados, faz parte do DNA da
civilização europeia. De valores morais a fronteiras, tudo foi construído sob
influência da religião que os europeus adotaram cedo, transformaram e
espalharam pelo mundo. Se a secularização das mentalidades influencia o estilo
de vida dos europeus, o desaparecimento dos templos em si deixa um vazio na
paisagem.
O
que será das cidades e campos do Velho Continente, que o mundo inteiro admira,
sem os templos, sejam eles de que crença forem? Não serão abandonados para
virar ruínas, como os antigos templos gregos. Na Europa, os terrenos são muito
caros. Dessacralizados, os templos se tornam imóveis a serem demolidos ou
reformados para um novo fim. A maioria deles não deve sobreviver à falta de fé
ou de convicção que os esvaziou. E a rica Europa fica menos rica.
(Marleth Silva, Gazeta do Povo)
Nota: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na Terra?” (Lucas 18:8).
Nota: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na Terra?” (Lucas 18:8).