Reino Unido contra o criacionismo |
A
recente decisão do governo do Reino Unido de proibir o ensino do criacionismo
em escolas e universidades públicas mostra que, com o passar do tempo e o
acirramento da controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo, cientistas
evolucionistas e religiosos liberais vão se aproximando cada vez mais e
hostilizando o grupo dos que defendem o relato da criação como registrado no
livro bíblico de Gênesis. Mesmo as escolas vinculadas a igrejas estão sendo “motivadas”
a adotar um “currículo mais amplo e equilibrado”. Traduzindo: um currículo que
inclua a teoria da evolução desde as séries iniciais, preparando, assim, as
crianças para aceitar a teoria de Darwin.
O
governo do Reino Unido diz que, como não está de acordo com as evidências e
consensos científicos, o criacionismo “não deve ser apresentado aos alunos como
uma teoria científica”. Como diz o ditado, toda generalização é burra. E aqui
parece que, uma vez mais, não interessa detalhar o problema. De fato, o
criacionismo não deve ser apresentado como uma “teoria científica”, já que tem
fundamentos religiosos, mas dizer que ele não conta com evidências científicas
é “forçar a barra”. O que dizer da existência de informação complexa e
específica que sempre depende de uma fonte informante? O que dizer da
impossibilidade de as mutações darem origem a novos órgãos funcionais e novos
planos corporais? O que dizer da incapacidade de a seleção natural explicar a
existência do mais apto? (Ela só explica a sobrevivência
do mais apto, não como teria “surgido”
esse mais apto.) O que dizer dos sistemas de complexidade irredutível que
precisavam funcionar perfeitamente bem desde que foram criados, sob o risco de
não haver vida depois para “contar a história”? O que dizer da constatação de
que as “camadas” da coluna geológica são, em geral, plano-paralelas, sem
evidência de erosão entre elas, o que sugere uma formação rápida e
catastrófica? O que dizer da imensa quantidade de fósseis de dinossauros
descobertos em todos os continentes, com evidências de que foram mortos sob
água e lama, em estado de agonia? O que dizer de mais um monte de evidências
que não “fecham a conta” quando o assunto é evolucionismo? Jogar tudo isso para
debaixo do tapete e fingir que elas não existem?
Outra
coisa: se o criacionismo não deve ser ensinado nas escolas por não ser
“científico”, o macroevolucionismo também não deveria, pois é essencialmente
filosófico, metafísico. Como assim? Macro ou megaevolução é a hipótese segundo
a qual a vida teria surgido da não vida, num mar primordial, há bilhões de
anos. Essa forma de vida rudimentar, num “passe de mágica”, precisou “adquirir”
complexidade (o que significa receber não se sabe de onde grande quantidade de
informação genética para dar origem a órgãos antes inexistentes, como os
sistemas reprodutores masculino e feminino, por exemplo, que deveriam “surgir”
em dois organismos distintos, simultaneamente, no mesmo espaço geográfico, e
tornar esses seres diferenciados compatíveis e capazes de gerar uma nova forma
de vida igualmente sexuada). Assim, de uma “célula primordial” (e olha que uma
célula, por mais simples que se possa concebê-la, já é ultracomplexa) teriam se
originado todas as formas de vida, desde uma árvore até um ser humano, passando
pelas aves, os insetos e as baleias. Isso não é científico. Isso não é empiricamente
observável. Não há evidências conclusivas a esse respeito. Tanto é assim que,
se você perguntar a um evolucionista quais são as evidências reais da evolução,
ele citará as bactérias que adquirem resistência a antibióticos ou a variação
nos tentilhões das ilhas Galápagos, “esquecendo-se” de que depois de muitos
anos de observação, pesquisa, mutações e adaptações, as bactérias continuam
sendo bactérias e os passarinhos de Darwin continuam sendo passarinhos. Dar
evidências de microevolução para sustentar a macro não vale. Mas quem explica
isso? A mídia é que não. E o governo do Reino Unido muito menos.
O
documento do governo considera como criacionismo “qualquer doutrina ou teoria que
sustenta que os processos biológicos naturais não podem explicar a história, a
diversidade e a complexidade da vida na Terra e, portanto, rejeita a teoria
científica da evolução”. Note como é capcioso o tal documento: criacionismo é doutrina (religião), enquanto
evolucionismo é ciência. Já vimos que
a coisa não é tão simples. Ambos os modelos (criacionista e evolucionista) têm
componentes científicos e metafísicos. Mas é conveniente que se polarize a
discussão como sendo ciência versus
religião, e assim eles blindam o evolucionismo de qualquer crítica.
Segundo
matéria publicada no jornal O Globo,
“a crença religiosa segundo a qual a vida e o planeta Terra teriam sido criados
por Deus em seis dias vem alimentando polêmica em diversos países nos últimos
anos [ou seja, os criacionistas que creem nos seis dias são os polêmicos, personas non gratas; e serão cada vez
mais vistos dessa forma...]. Em alguns casos, a teoria chegou a ganhar novas
roupagens, como o chamado ‘design
inteligente’ [e nem adianta querer explicar que design inteligente não é criacionismo]. Em resposta, cientistas
passaram a defender que a Teoria da Evolução, de Charles Darwin, fosse ensinada
às crianças a partir dos cinco anos”.
Ou
seja, para fazer frente ao criacionismo, o negócio é doutrinar as crianças em
evolução, justamente numa idade em que elas acreditam sem questionar. O foco
deles é a nova geração. Portanto, que os criacionistas cuidem da deles.
Michelson Borges