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Fui [Nivaldo Cordeiro] assistir ao filme “Malévola”, dirigido por Robert
Stromberg e estrelado por Angelina Jolie. Nele vi o contrário do que espero do
cinema. Esse diretor é também autor da fábula ambientalista “Avatar”, outra porcaria produzida pela perfeição
tecnológica. O filme “Malévola” virou uma página de propaganda do feminismo
mais rasteiro e rancoroso. O belíssimo conto de fadas do francês Charles
Perrault, “A Bela Adormecida”, teve sua mensagem violentada ao sabor dos
preconceitos descarados dos militantes e das militantes feministas. As
figuras masculinas da história foram reduzidas a caricaturas grotescas. Os
homens ou são maus ou são fracos ou ambas as coisas. O poder masculino é
supostamente falso, o poder feminino é verdadeiro, segundo essa versão
falsificada do conto de fadas. Mas a má intenção do autor do filme está muito
bem expressa no desfecho: o beijo salvador do conto original não pode acontecer
para essa gente porque é a exaltação da união natural entre o homem e a mulher,
levando ao matrimônio e à família. É claro que o príncipe que aparece é um
perfeito bocó e seu beijo, inútil. É como se não pudesse haver amor verdadeiro
entre um homem e uma mulher, como é expresso nas falas repetidas vezes: “O amor
verdadeiro não existe.”
Amor
verdadeiro só entre duas fêmeas. Eu quase achei que Malévola ia beijar a bela
que dormia nos lábios. Não tiveram coragem para isso ou os produtores
impediram, pois afinal as vítimas pagantes de bilheteria são, em sua maioria,
infanto-juvenis. Ficaria um pouco demais, não é mesmo? Mas esse é certamente o
enredo que as feministas mais radicais defenderiam.
A
maldade do diretor não se esgota nessa falsificação do original e da própria
essência humana retratada no conto de fadas de Perrault. Vemos, com toda força,
a exaltação da tese gnóstica de que o bem precisa do mal para existir. Jung
certamente adoraria o enredo do filme, assim como Goethe. Malévola é aquela que
quer praticar o mal e acaba por praticar o bem, não é bonitinho? Assim, o bem
depende do mal. A velha gnose de sempre. Nesse sentido, o filme é
aterradoramente anticristão.
A
figura do corvo que acompanha Malévola é o próprio emblema de Satã, sua ave
totêmica. Malévola o faz transformar-se em homem, que passa a ser seu escravo e
pau para toda obra. O sonho dourado das feministas.
Malévola
é a bruxa má resgatada de sua maldade e posta a “amar”. A suma de todo ódio e
rancor é transformada em seu oposto. Essa é a crença essencial da modernidade e
que tem se substituído ao cristianismo. Está em toda parte. O filme apenas dá
uma roupagem feminista, mas o essencial da sua mensagem é a exaltação
“benéfica” do maléfico.
O
grande público se encanta e se engana com o emprego da belíssima técnica de
filmagem empregada, à perfeição. Mas a embalagem linda esconde apenas veneno.
Uma vez na sala de cinema, apagadas as luzes, os jovens expectadores são
submetidos a mais sórdida mentira, vigarice, enganação e falsificação de que é
capaz um ser humano. Um estupro intelectual sob belas imagens.