Mais uma peça de ficção |
Como
você se sentiria ao acordar e ninguém mais chamar você pelo nome nem lhe dar a
importância devida como ser humano? Como se você não existisse. Ou fosse um
personagem de ficção. Pois é justamente isso que acabou de acontecer com certo homem. Alguns antropólogos estão
afirmando agora que o tão aclamado Homo
heidelbergensis nada mais é, nota bene, nada mais é do que “um construto
de paleoantropólogos”. Quem não lembra das figuras feitas dele, um ser peludo,
forte e um ancestral dos neandertais
e os humanos modernos, que [teriam vivido] entre 800 mil e 200 mil anos atrás?
E agora, com esse questionamento, o Homo
heidelbergensis não deve ter existido e pode ser mais uma invenção dos
paleoantropólogos, segundo relato de Michael Balter, na revista Science.
Balter
participou desse encontro privado de cientistas no sul da França, em que os
pesquisadores debateram o status
desse suposto ancestral humano. “Se alguém matar uma pessoa, ele vai para a
cadeia”, o antropólogo Zeresenay Alemseged, da Academia de Ciências da
Califórnia, em São Francisco, salientou no mês passado em um encontro no
interior do sul da França. “Mas o que acontece quando você mata toda uma
espécie?” A resposta logo ficou aparente: um debate angustiado. Na balança
estava o Homo heidelbergensis, um
ancestral humano de cérebro grande geralmente considerado como uma figura
importante durante um período sombrio da evolução. Nesse encontro somente para
convidados, os pesquisadores debateram se essa espécie realmente foi um ator
importante – ou não mais do que um construto de paleoantropólogos.
O
H. heidelbergensis de grande cérebro
reivindicou um lugar importante na árvore evolutiva humana: ele é considerado
por muitos [cientistas] como o ancestral comum dos humanos modernos e de nossos
“primos” mais próximos e extintos, os neandertais. Datado aproximadamente em
500 milhões de anos atrás, ele é tido como ligando aquelas espécies e o mais
antigo H. erectus, que tinha se
espalhado pela África, Ásia e Europa, começando há [supostos] 1,8 milhão de
anos. Mas, com base em uma nova consideração da evidência fóssil incompleta,
alguns cientistas argumentam que o quadro é muito mais complicado, e que a
transição entre o H. erectus de
pequeno cérebro e os hominins de grandes cérebros ocorreu múltiplas vezes. Se
for assim, o conceito de uma só espécie, multicontinental e intermediária
poderia se dissolver em uma grande quantidade de espécimes de hominins sem nenhum
nome para uni-los.
Repare
que Balter não está afirmando que os crânios dessa criatura nunca existiram:
afinal de contas, existem “11 crânios potenciais de H. heidelbergensis” que Philip Rightmire, da Universidade Harvard,
examinou. O que estava em questão nesse debate privado (?) e agora tornado
público é se um conjunto de características pode ser definida como uma espécie,
considerando-se toda a diversidade de crânios humanos catalogada, e se aquela
espécie mostra uma transição entre o Homo
erectus e os posteriores ancestrais. Talvez você não saiba, mas cientistas
como o Dr. Walter Neves, da USP, sabem e precisam destacar em sua exposição “Do macaco ao homem”, que a história do nome Homem de
Heidelberg parece ser arbitrária.
O
H. heidelbergensis tem uma história
de controvérsia. A espécie foi baseada em uma única mandíbula inferior
encontrada em 1907, em Mauer, perto de Heidelberg, na Alemanha. Calculada em
cerca de 600 mil anos de idade, a mandíbula tem um ramo mandibular
estranhamente grosso – uma projeção vertical que se articula ao crânio – e nada
igual a isso foi encontrado desde então. Por décadas, o nome não conseguiu
pegar, até que os antropólogos, inclusive Rightmire e Chris Stringer, do Museu
de História Natural em Londres, observaram distintas arcadas superciliares
grossas e grandes rostos em crânios de idade mais ou menos semelhante a partir
de sítios, incluindo Arago; Petralona na Grécia; Broken Hill em Zâmbia; Yunxian
na China; e Bodo na Etiópia. Todos esses crânios também armazenaram cérebros muito
maiores do que do H. erectus, cerca
de 1.200 centímetros cúbicos, dentro da faixa de cérebros humanos modernos, que
está na média aproximada de 1.400 cc. (o cérebro de neandertais pode ser um
pouco maior).
Nos
anos 1970, Stringer e outros postularam uma única espécie abrangendo a Europa,
África e Ásia, e ressuscitaram o nome H.
heidelbergensis para descrevê-la. O cérebro muito maior da espécie foi
refletido nas ferramentas complexas atribuídas a ela, tais como as lanças de
madeira em Schöningen, na Alemanha (Science, 6 de junho, p. 1.080).
Parada
para uma reflexão muito séria aqui, pois Balter parece estar dizendo que
Stringer e seus colegas juntaram indivíduos desconectados de todo o mundo
debaixo da designação antiga de Heidelberg, baseados apenas em algumas
características, e isso basta para a chamarem de espécie? Alguns preferiram o
rótulo mais antigo “Homem da Rodésia” da África.
Alô,
Down, nós temos um problema aqui, Darwin. E que problema sério nós temos aqui,
Dr. Walter Neves. Quem está promovendo os crânios de Sima, na Espanha, duvida
que a designação Homo heidelbergensis
ainda seja útil. Outros argumentam que o crânio de Mauer de Heidelberg, que
começou tudo isso, parece ser “único de um tipo”, e não representando uma
espécie, quando se considera suas características.
Bem,
nesse encontro teve cientista que discordou. Cientista como Ian Tattersall, que
“lutou vigorosamente para salvar as duas espécies e a opinião mais simples de
todas e mais direta da evolução humana que ele representa”. Balter termina seu
artigo com a mera esperança, ao afirmar que “novos fósseis desse tempo
misterioso ajudariam”. Ele nem ousou predizer sobre a publicação que virá sobre
ossos da Etiópia datados do período de 300 mil anos, a não ser afirmar o óbvio:
“Espere um debate vívido quando esses ossos fundamentais forem publicados.”
Pano
rápido! “Do macaco ao homem”, uma exposição PERMANENTE sobre o fato, Fato, FATO da
evolução humana é NATIMORTA e vai apresentar o Homem de Heidelberg como nosso
ancestral e dos neandertais? Espero que não!
Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Eu amo a ciência. Sei que ela é feita por pessoas. Sei das limitações de suas teorias. Sei também da preferência e do preconceito dos cientistas diante das evidências. Quando as evidências contrariam a teoria, há cientistas que as desconsideram. ‘Evidências? Que se danem as evidências, o que vale é a teoria!’ – teria dito Theodosius Dobzhansky a seus alunos de Genética na USP, nos anos 1930. Como eu sei que o Dr. Walter Neves é um cientista sério, como curador dessa exposição PERMANENTE, ele mandará corrigir o status evolucionário do Homem de Heidelberg.”
Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Eu amo a ciência. Sei que ela é feita por pessoas. Sei das limitações de suas teorias. Sei também da preferência e do preconceito dos cientistas diante das evidências. Quando as evidências contrariam a teoria, há cientistas que as desconsideram. ‘Evidências? Que se danem as evidências, o que vale é a teoria!’ – teria dito Theodosius Dobzhansky a seus alunos de Genética na USP, nos anos 1930. Como eu sei que o Dr. Walter Neves é um cientista sério, como curador dessa exposição PERMANENTE, ele mandará corrigir o status evolucionário do Homem de Heidelberg.”