Miller e sua "sopa orgânica" |
Neste
artigo, publicado recentemente na Angewandte
Chemie International Edition, os autores tentam ressuscitar o experimento morto de Urey-Miller sobre a origem da vida: “A Plausible Simultaneous
Synthesis of Amino Acids and Simple Peptides on the Primordial Earth”, Eric T.
Parker, Dr. Manshui Zhou, Dr. Aaron S. Burton, Dr. Daniel P. Glavin, Dr. Jason
P. Dworkin, Prof. Dr. Ramanarayanan Krishnamurthy, Prof. Dr. Facundo M.
Fernández and Prof. Dr. Jeffrey L. Bada. Article first published online: 25 JUN
2014, DOI: 10.1002/anie.201403683.
Abstract: Following
his seminal work in 1953, Stanley Miller conducted an experiment in 1958 to
study the polymerization of amino acids under simulated early Earth conditions.
In the experiment, Miller sparked a gas mixture of CH4, NH3, and H2O, while
intermittently adding the plausible prebiotic condensing reagent cyanamide. For
unknown reasons, an analysis of the samples was not reported. We analyzed the
archived samples for amino acids, dipeptides, and diketopiperazines by liquid
chromatography, ion mobility spectrometry, and mass spectrometry. A dozen amino
acids, 10 glycine-containing dipeptides, and 3 glycine-containing diketopiperazines
were detected. Miller’s experiment was repeated and similar polymerization
products were observed. Aqueous heating experiments indicate that Strecker
synthesis intermediates play a key role in facilitating polymerization. These
results highlight the potential importance of condensing reagents in generating
diversity within the prebiotic chemical inventory.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/anie.201403683/abstract
As críticas antigas
de Jonathan Wells ao experimento de Urey-Miller
ainda se aplicam:
1.
Os pesquisadores ainda usaram os gases errados: metano, amônia e vapor d’água.
Há décadas, os geoquímicos não têm considerado a probabilidade de que esses
gases tenham sido abundantes na atmosfera da Terra primitiva.
2.
Os pesquisadores ainda ignoraram a presença de oxigênio, que destrói os
produtos desejados. Wells explicou que o oxigênio, provavelmente, era abundante
devido à fotodissociação da água na atmosfera. O oxigênio permaneceria,
enquanto o hidrogênio escaparia rapidamente para o espaço.
3.
Mesmo que traços de quantidades de amônia ou metano e outros gases redutores
estivessem presentes, eles teriam sido destruídos rapidamente pela radiação
ultravioleta.
4.
Nenhum aminoácido tem sido criado em experimentos de descarga de faíscas usando
uma atmosfera real de nitrogênio, dióxido de carbono e vapor d’água, mesmo na
ausência de oxigênio.
5. Os aminoácidos produzidos eram racêmicos (misturas
de formas dextrogiras e levogiras). Fora as raras exceções, a vida usa somente
a forma levogira. Os astrobiólogos precisam explicar como o primeiro
replicador isolou uma mão daquela mistura, ou como inicialmente obteve função
de formas misturadas de aminoácidos, e depois mais tarde as converteu em formas
únicas de mãos. Nenhuma dessas possibilidades é plausível para processos
naturais não guiados – especialmente quando a seleção natural não estaria
disponível até que a replicação exata fosse alcançada.
6.
Reações cruzadas indesejáveis com outros produtos gerariam alcatrão, destruindo
os aminoácidos. Somente isolando os produtos desejados (uma forma de
interferência do investigador – alguém poderia chamar de design inteligente) é que eles poderiam reivindicar sucesso
parcial.
7.
Os aminoácidos tendem a se desfazer em água e não a se juntar. Sob as melhores
condições com cianamida, Bada e Parker somente obtiveram dipeptídeos. Ciclos
repetidos de molhar e secar teriam que ser imaginados para a polimerização, mas
muitos astrobiólogos hoje em dia pensam que a vida se originou nas fontes
hidrotermais profundas.
8.
Os reagentes desejados seriam extremamente diluídos nos oceanos sem plausíveis
mecanismos de concentração. Mesmo assim, eles se dispersariam sem os vasos
plausíveis como as membranas celulares, para mantê-los próximos.
9.
Os polipeptídeos sem vida não iriam a lugar nenhum sem um código genético para
conduzi-los.
10.
Os experimentos de Urey-Miller não podem falar da origem de outras moléculas
complexas necessárias para a vida: ácidos nucleicos, açúcares e lipídios.
Algumas dessas moléculas complexas exigem condições muito diferentes
do que as retratadas para a síntese de aminoácidos: e.g., um ambiente
deserto com boro para a síntese da ribose (essencial para o RNA).
O
experimento de Urey-Miller sobre a origem da vida pode ser uma teoria bonita
para alguns, mas como Thomas Huxley bem salientou, muitas teorias bonitas foram
mortas somente por um fato feio. Nós acabamos de lhe apresentar dez fatos feios
que matam o ícone do experimento de Urey-Miller.
Esse
morto não vai ressuscitar!
(Baseado em material publicado por
teóricos do DI, via Desafiando a Nomenklatura Científica)