Os
repórteres do Fantástico percorreram abatedouros pelo Brasil e comprovaram
total falta de higiene e extrema crueldade no abate do gado em vários pontos do
país [até que enfim uma grande emissora resolveu colocar o dedo na ferida]. Estimativas
obtidas pelo Fantástico indicam que 30% da carne brasileira é produzida sem
fiscalização [você acha, então, que vale a pena se expor aos riscos de comer
carne?]. A reportagem de Fabio Castro e Monica Marques mostra uma ameaça à
saúde pública, que merece a atenção das autoridades.
Animais
mortos com marretas e até com uma espingarda. Restos de carnes espalhados entre
cachorros e porcos. Funcionários fumando, sem camisas e cortando o gado com um
machado. Assim funcionam os abatedouros que fornecem 30% da carne que vai pra
mesa do brasileiro, segundo estimativas dos produtores. O Brasil tem um rebanho
de 200 milhões de cabeças de gado. É o maior exportador de carne bovina do mundo.
Essas cenas foram flagradas, com câmeras escondidas, em abatedouros municipais
e estaduais legalizados. São parte de um trabalho realizado pela ONG Amigos da
Terra, uma organização mundial que denuncia problemas ambientais.
“Em
estados que têm 50% do rebanho nacional, a gente estima que sejam aproximadamente
dois terços dos empreendimentos operando irregularmente e gerando um terço da
carne consumida dentro do Brasil”, declara Roberto Smeraldi, diretor da Amigos
da Terra. Duzentos e oitenta abatedouros foram visitados em oito estados
brasileiros. Nesses lugares, a higiene é o problema mais grave. [...]
Em
Parapuã, outro problema comum nos abatedouros do país: animais são cortados no
chão, onde a carne acaba sendo contaminada. “Nós baixamos um decreto municipal
interditando o matadouro por 15 dias para que a gente possa buscar adequar ele
às normas da Vigilância Sanitária”, diz Samir Pernomian, prefeito de Parapuã. No
chão do matadouro há insetos mortos, poças de sangue secas e fezes de ratos. Um
ex-funcionário do abatedouro mostrou ao Fantástico as irregularidades. [...] Alguns
abatedouros atraem animais ainda maiores. Em Braúna, cachorros e gatos comem os
restos dos abates. [...]
O
Fantástico esteve em uma rua da cidade de Itajá, em Goiás, quase na divisa com
Mato Grosso do Sul. E em um prédio funciona um abatedouro. Já chegou a ser
fechado, mas voltou a funcionar através de uma liminar da Justiça. Os animais
são mortos com marretas e cortados no chão. Ninguém usa luvas ou máscaras. Nossa
equipe acompanhou a distribuição da carne, logo após o abate. O produto sai da
indústria sem passar pelo resfriamento, que é obrigatório. Fica numa caixa sem
refrigeração e é carregada numa espécie de tambor plástico, sem tampa. O
veterinário contratado pela prefeitura para coordenar o processo de abate diz
que a situação é provisória. “Deu um problema no nosso motor do resfriador da
câmara fria”, diz o veterinário.
Outra
prática comum nos matadouros pelo Brasil é o abate cruel. De novo em Jeriquara,
flagramos cenas de barbárie. Um funcionário conduz o boi para a entrada do
abatedouro. O animal para, se deita, e é chutado pelo homem. Como o boi não
segue para o local de abate, o homem usa uma outra técnica. Ele morde o rabo. Pouco
depois, outro homem se aproxima com uma espingarda e abate o boi com um tiro.
Um procedimento obviamente irregular. [...]
[As]
doenças podem ser graves. A principal delas é a cisticercose, que ataca o
cérebro, provoca convulsões e distúrbio de comportamento. Teníase infecta os
intestinos. Causa dores, náuseas e perda de peso. Listeriose causa febre, dores
de cabeça e pode provocar abortos em grávidas. Toxoplasmose provoca problemas
no fígado, pulmão e coração.
Tuberculose
causa problemas nos pulmões. “De todas as tuberculoses humanas, 10% são por
microbactéria Bovis, que é uma bactéria do boi. Então é fundamental que tenha
realmente muita vigilância e cuidado com esse tipo de alimento”, alerta Leandro
Teles, médico do Hospital das Clínicas, da USP. [...]
Nota 1:
Vale a pena assistir à reportagem no site do Fantástico (clique aqui).
Nota 2:
Levando em conta toda a crueldade a que os animais são submetidos nos
matadouros, chega a ser quase indecente a publicidade abaixo (alterada no Photoshop).
Leia também: "A Carne é Fraca (documentário)", "A batalha pela mente (parte 11)" e "O preço da carne"