Lendo o texto “O problema de Deus em Jean-Paul Sartre”, de Rogério A. Bettoni, a única pergunta que me vem à cabeça é a seguinte: O que levou, de fato,
Sartre a rejeitar Deus? O próprio texto me dá a resposta: “Com sua família de
cunho católico (a avó) e protestante (o avô), mas uma religiosidade aparente,
Sartre frequentava a igreja, mas nada disso era realmente convicção. Por si só,
e aos poucos, a simpatia por Deus perdeu seu efeito: ‘Eu tinha necessidade de Deus,
Ele me foi dado, eu O recebi sem compreender o que procurava. Por não deitar
raiz em meu coração, vegetou em mim algum tempo, depois morreu.’”
Todo o calhamaço filosófico de
Sartre é produto de seu próprio contexto existencial, desprovido de significado
e relevância religiosos. Por extensão, ele transfere a sua experiência
para a realidade da vida de todos os homens. Tentar salvar o existencialismo da
consequência natural e trágica implícita nele – o desespero e solidão humanos –, conferindo-lhes ares
de autêntica “liberdade”, significa jogar uma corda para o alto e
tentar se pendurar nela.
Acho que Nietzsche foi muito mais
honesto em suas contraditórias motivações ateístas, quando se expressou: “O
ateísmo não representa para mim uma conclusão lógica, nem um mero
acontecimento, é simplesmente um produto do instinto.” Por que Nietzsche
pensou assim? Porque simplesmente, como bem expressou C. S. Lewis, “Deus é o
grande Rival, o supremo objeto da inveja humana; aquela beleza, terrível como a
Górgona, que pode a qualquer momento roubar de mim (ou que a meu ver é um
roubo) o coração da esposa, marido ou filha”. Ou seja: Deus “rouba” de nós o
nosso eu, as coisas que nossos desejos imputam como as mais caras, para nos
tornar dependentes dEle. Daí o sentimento de castração da
liberdade, acompanhado do desejo de independência de Deus. O que os
ateus não sabem, por experiência, é que ganhamos ao ser “roubados” pelo
Senhor.
Sartre e os demais filósofos do
ateísmo foram honestamente dedicados (embora uma dedicação trágica) em
tentar expulsar Deus do cenário do pensamento humano. Empregaram toda a força
do seu intelecto e vida para imprimir no mundo e na mente dos homens a noção de
que Deus é ilusão. Vergonhosamente, a maioria de nós, cristãos, não
demonstra tanto empenho para afirmar o contrário da filosofia sartreana. Os
ateus parecem ser mais crentes na sua descrença do que nós em nosso
cristianismo. Por causa da “falha da fé”, escondemos do mundo o tesouro de um
Deus presente na imanência. Muitos cristãos adotaram o existencialismo sem o
saber.
O ateísmo nada mais é do que uma
rebelião contra a vontade e soberania divinas, ainda que se tente racionalizar
esse fato com o verniz da intelectualidade. No entanto, como dizem que no Céu
haverá surpresas, talvez algum ateu surpreenda os crentes com sua presença lá,
pois no julgamento final Deus pode entender que muitos professaram o
ateísmo porque não tinham como suportar a noção equivocada dEle em face da
razão esclarecida. Não sei, não sei... Só sei que Deus sonda os corações...
(Frank
de Souza Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos,
Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Sergipe. Texto escrito com exclusividade para o blog Criacionismo)
Leia também: "Quando a liberdade é uma dádiva cruel", "O ateu que quase se converteu" e "O retorno a Deus do ateu Heinrich Heine"
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