Álvaro e Daniel: fiéis a Deus |
Para
a maioria dos estudantes que se inscreveram para o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) deste ano, as provas começam às 13h, horário de Brasília. Mas para
os de religiões que guardam o chamado “período sabático”, o horário é especial:
a prova do próximo sábado (26) só poderá ser iniciada depois que o sol se pôr.
O G1 conversou com o jovem Daniel Machado Pereira, de 18 anos, que presta o
Enem pela terceira vez neste fim de semana. Ele contou que os sabatistas devem
chegar aos locais de prova no mesmo horário dos demais candidatos, às 12h, e
que em algumas salas os fiscais não permitem nem mesmo conversas. Também não é
permitido levar a Bíblia. Para o estudante, a segurança durante o exame tem
ficado cada vez mais rígida, mas que a espera não é nenhum sacrifício e não
representa empecilho para um bom desempenho.
No
Brasil, adventistas, judeus e batistas do sétimo dia são sabatistas. No momento
da inscrição para o Enem, esses alunos devem especificar essa opção, que vem
impressa no cartão de confirmação, para que fiquem isolados em salas especiais
desde o momento que o exame começa em todo o Brasil até o início da noite. A
espera é de aproximadamente seis horas. Além do sábado, a prova também acontece
no domingo (27).
O
pastor Paulo Falcão, que é administrador da Igreja Adventista do Sétimo Dia,
explicou que todo adventista deve reservar o período do pôr do sol da
sexta-feira até o pôr do sol do sábado para as atividades ligadas à religião.
Por esse motivo, os candidatos do Enem não podem estudar ou fazer a prova
durante esse período.
O
estudante Daniel quer tentar o vestibular para o curso de Audiovisual, na
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Ele, que é da Igreja Adventista
do Sétimo Dia, também contou que mesmo que a prova comece mais tarde para os [sabatistas],
se o candidato chegar depois das 13h, não pode fazer a prova.
“Ficam
umas 30 pessoas por sala, em média. Não podemos levar nada para ler, nem mesmo
a Bíblia, e os celulares e relógios devem ficar dentro de uma sacolinha desde o
momento que chegamos, como em qualquer lugar. Dependendo do fiscal, a gente
pode conversar entre si, mas alguns não deixam nem isso. No primeiro Enem que
fiz, quando caía a noite, ainda era possível fazer um culto de passagem para a
nova semana, antes do início da prova, mas no ano passado as normas mudaram e
já não era mais possível fazer”, lembrou.
Uma maneira que Daniel encontrou para se preparar para a longa espera foi na prática de esportes. “No primeiro Enem que fiz, cheguei a ficar um pouco cansado, mas notei que, no ano seguinte, quando já estava praticando esportes, me senti muito mais disposto para aquentar esse ‘teste de resistência’”, brincou.
Uma maneira que Daniel encontrou para se preparar para a longa espera foi na prática de esportes. “No primeiro Enem que fiz, cheguei a ficar um pouco cansado, mas notei que, no ano seguinte, quando já estava praticando esportes, me senti muito mais disposto para aquentar esse ‘teste de resistência’”, brincou.
O
estudante Álvaro Soldani Gondim de Freitas, de 16 anos, está no 2º ano do
ensino médio e vai fazer a prova apenas como teste. Ele contou que o sábado do
adventista é um dia voltado para Deus e que, ao contrário do que muitos pensam,
é um período com muitas atividades. “O sétimo dia foi quando Deus descansou,
então reservamos para pensar em coisas divinas. A lei de Deus é imutável, esse
é um dia sagrado. Geralmente vamos para a escola sabatina, estudamos, fazemos
obras que não são voltadas para nós mesmos”, disse.
Para
a estudante Lara Leite Pereira, de 17 anos, é um privilégio poder guardar o sétimo
dia. “Temos um dia de descaso que muita gente não tem, muita gente é obrigada a
trabalhar. No dia do Enem, vamos ficar confinados, mas essa espera não vai
matar ninguém”, falou.
A
jovem Bárbara Stowner dos Santos, de 17 anos, está no 3º ano do ensino médio e
vai fazer o Enem pela segunda vez. Como adventista do sétimo dia, ela explicou
que já chegou a ouvir de muitas pessoas que eles “vivem de passado”. “Falam que
seguimos o que está escrito no Antigo Testamento, e que isso tudo já mudou, mas
uma passagem de Jesus na Bíblia diz que Ele não veio para mudar a lei e sim
para cumpri-la”, disse.
Mesmo
vivendo em um país essencialmente católico, os jovens contaram que não tiveram
dúvidas em permanecer na religião em que nasceram. “Quando a gente escolheu ser
adventista, já sabíamos de tudo o que iríamos passar. Jesus mesmo sofreu várias
provações”, falou Álvaro.
Daniel
ainda destacou que mesmo começando a prova mais tarde, os sabatistas não têm
qualquer vantagem sobre os demais. “A honestidade dos adventistas, de acordo
com os princípios escritos na Bíblia, sempre sobressai. Se o fiscal permitir
que a gente converse, não vamos ficar falando dos assuntos da prova. Isso seria
desonesto e até um pecado”, explicou.
A
estudante Lara Pereira contou que na primeira vez que fez o exame nacional, em
2012, acabou dando um testemunho sobre sua religião a uma jovem que não era
sabatista, mas que estava com o cartão de inscrição constando essa
particularidade.
“Ela estava até revoltada com a espera que ela também teria que passar. A tia dela havia preenchido a inscrição errada. Resolvi usar esse tempo para passar meu testemunho para ela, expliquei o motivo de tudo de acordo com a minha igreja. No final, ela estava tão interessada que me disse que ia até procurar uma igreja adventista para saber um pouco mais, só não sei se ela fez isso mesmo”, falou.
“Ela estava até revoltada com a espera que ela também teria que passar. A tia dela havia preenchido a inscrição errada. Resolvi usar esse tempo para passar meu testemunho para ela, expliquei o motivo de tudo de acordo com a minha igreja. No final, ela estava tão interessada que me disse que ia até procurar uma igreja adventista para saber um pouco mais, só não sei se ela fez isso mesmo”, falou.
O
pastor Paulo Falcão explicou que a tradição que os adventistas e outras
religiões sabatistas têm de guardar o sábado vem da própria Bíblia. “Na criação
do mundo, após ter feito todas as coisas, Deus descansou nesse dia. O sábado
foi feito para que o homem tivesse um tempo livre de todas as influências
externas, e dedicasse ao descanso, realizando ações de auxílio ao próximo, e a
meditação sobre o amor de Deus. Acreditamos e cumprimos os dez mandamentos e o
4º, localizado em Êxodo 20, diz: ‘Lembra-te do dia do sábado, para o santificar.’
Mas não nos prendemos apenas ao Antigo Testamento da Bíblia, pois no evangelho
de Lucas, por exemplo, lemos que o próprio Cristo tinha como costume ir à igreja
aos sábados”, contou.
O pastor ainda frisou que está na Bíblia a explicação que sustenta a crença dos sabatistas de que após o pôr do sol de sábado já é domingo. “A Bíblia diz que o dia começa pela tarde. Em Gênesis 1, diz: ‘E Deus chamou à luz dia; e às trevas chamou noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro’”, explicou.
Sendo o Brasil um país de maioria católica, muitos não têm o costume de guardar o sábado. Mas o pastor esclareceu que a partir do momento que nossa Constituição garante liberdade religiosa, qualquer situação em que os sabatistas poderiam se sair prejudicados pode ser contornada. “As coisas foram mudando aos poucos. O Enem, por exemplo, oferece essa alternativa para as provas. Muitos concursos, vestibulares não são realizados aos sábados e sim aos domingos por conta disso. Mesmo as escolas e universidades fornecem meios alternativos aos sabatistas, a fim de suprir a ausência nas sextas à noite, quando já é sábado para nós. Na maioria das vezes, essa solução acontece através de uma boa conversa”, garantiu.
O pastor ainda frisou que está na Bíblia a explicação que sustenta a crença dos sabatistas de que após o pôr do sol de sábado já é domingo. “A Bíblia diz que o dia começa pela tarde. Em Gênesis 1, diz: ‘E Deus chamou à luz dia; e às trevas chamou noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro’”, explicou.
Sendo o Brasil um país de maioria católica, muitos não têm o costume de guardar o sábado. Mas o pastor esclareceu que a partir do momento que nossa Constituição garante liberdade religiosa, qualquer situação em que os sabatistas poderiam se sair prejudicados pode ser contornada. “As coisas foram mudando aos poucos. O Enem, por exemplo, oferece essa alternativa para as provas. Muitos concursos, vestibulares não são realizados aos sábados e sim aos domingos por conta disso. Mesmo as escolas e universidades fornecem meios alternativos aos sabatistas, a fim de suprir a ausência nas sextas à noite, quando já é sábado para nós. Na maioria das vezes, essa solução acontece através de uma boa conversa”, garantiu.