Opção pelo "acaso" |
Na
semana passada, o físico brasileiro Marcelo Gleiser, de 54 anos, concedeu
entrevista ao jornal Zero Hora e revelou sua preocupação com alguns dos dilemas éticos que a ciência vai
colocar diante de nós nos próximos anos. Também propôs um novo tipo de
moralidade, mais abrangente, que batizou de “ética cósmica” e que decorre da
possível condição humana de única forma de vida inteligente no Universo. Mas o
detalhe que mais me chamou a atenção, mesmo, foi a resposta dada por ele à
última pergunta. Leia aqui alguns trechos da entrevista, com meus comentários
entre colchetes e um comentário do amigo Tarcísio Vieira, no fim do post. [MB]
Ainda sobre nossa
responsabilidade de preservar a vida: o novo relatório sobre mudanças
climáticas traça um quadro bastante preocupante. Resta pouca dúvida de que a
ação humana está por trás de um processo de aquecimento global que pode causar
mudanças dramáticas. Já estragamos tudo?
De certa forma, sim. O processo de aquecimento global é praticamente irreversível. O que a gente pode fazer é parar agora para tentar minimizar os efeitos no futuro. É possível chegar a isso se houver um esforço planetário para controlar as emissões. Está mais do que na hora. [E assim Gleiser e o ZH dão sua contribuição para manter o clima de alarmismo em torno do assunto. “Temos que parar!” Quem estuda o tema do ECOmenismo já sabe quais são as propostas para “parar”...]
A história da ciência
é, sob certo ponto de vista, uma permanente conquista de terreno que pertencia
à religião, no que diz respeito a oferecer explicações sobre o mundo. Porém,
apesar da aparente vitória, quase todo mundo acredita em divindades, mas poucos
são capazes de compreender a ciência por trás de tudo que os cerca. O que isso
ensina sobre a relação da humanidade com a razão e com a fé?
A
ciência é uma maneira de pensar sobre a vida e sobre o mundo que, de certa
forma, é mesmo antagônica à questão religiosa [só para quem não compreende bem
a ciência e/ou a religião]. Na religião, o que você não entende você atribui a
uma divindade que explica ou que cria [é a velha acusação do “deus das lacunas”,
segundo a qual os religiosos seriam pessoas acomodadas que atribuem a uma
divindade tudo aquilo que não entendem. Nada mais falso. Fosse assim e os
primeiros cientistas, os fundadores do método científico, não seriam quase
todos homens profundamente religiosos. A motivação deles para fazer ciência foi
justamente entender como Deus havia
criado o Universo e como ele funciona.
Saber quem fez e procurar se
relacionar com Ele não invalida a busca pelo entendimento do como Ele fez]. Na ciência, o que você
tem de fazer é duvidar sempre e tentar encontrar respostas que não dependam de
ações sobrenaturais [perfeito, pois a ciência é naturalista; mas ela não pode
invalidar o estudo de outras realidades que extrapolem seus métodos. Quando a
ciência naturalista afirma que tudo surgiu por acaso, está fazendo uma
afirmação sobrenatural impossível de ser testeda/verificada e invadindo um
domínio que não lhe pertence]. São posições bastante antagônicas. O povo
brasileiro, em particular, é bastante espiritualizado. É raro eu dar uma
palestra sobre a ciência sem que alguém me pergunte se acredito em Deus ou não.
Pessoalmente, qual é o
enigma científico que o senhor mais gostaria de ver resolvido?
Acho
que é a origem da vida, como o Universo foi de uma coisa simples para uma coisa
mais complexa. [Como me disse um amigo biólogo: se pelo menos o que ele coloca
como fato “de uma coisa simples para uma coisa mais complexa” já tivesse sido
demonstrado eu já bateria palmas!] De repente, um grupo de moléculas orgânicas
interagindo entre si se transforma numa entidade autossuficiente capaz de se
reproduzir, ou seja, uma entidade viva [passe de mágica?]. Essa transição do
não vivo para o vivo é fascinante [e puramente hipotética, sem nenhum correspondente
na natureza]. Se entendermos isso, vamos entender como a vida surgiu [a coisa
não é assim tão simples, conforme indica este estudioso].
Outra implicação: se entendermos cientificamente como a vida surgiu, quem
acredita que Deus fez a vida vai ter de começar a pensar de novo sobre o que é
deus [a arrogância humana não tem limites mesmo... Além disso, Gleiser já parte
do pressuposto de que a vida “surgiu”; em nenhum momento ele considera a possibilidade
de que ela tenha sido criada.
Portanto, independentemente das evidências, ele já tem sua conclusão].
Comentário do biólogo e
mestre em Química Tarcísio Vieira: “Novamente, e como
sempre, voltamos ao ponto das coisas que seriam ‘logicamente possíveis’. É
incrível o poder de alucinação ao qual muitos estudiosos estão submetidos. Se
você perguntar a um químico se seria uma boa ideia reciclar os gases que saem
do escapamento de um automóvel a fim de transformá-los novamente em
combustível, provavelmente iria ouvir algo do tipo ‘isso é logicamente
possível, mas quimicamente inviável’. Ninguém, com um mínimo de conhecimento em
Química, apostaria nesse tipo solução para um possível esgotamento das reservas
de petróleo. Isso porque a transformação de ‘coisas simples’ (os gases que saem
do escapamento do automóvel) em ‘coisas mais complexas’ (o combustível que deu
origem aos gases) não é algo espontâneo e/ou casual, mas requer um tremendo
esforço intelectual e econômico. Empresas não apostam nesse tipo de coisa
porque não há, em nenhum lugar (sistema) que se conheça, qualquer indício de
que isso seja quimicamente viável. Mas, quando o assunto é origem da vida e
evolução, esse tipo de bom senso científico parece desaparecer totalmente. É
importante frisar isto: nem tudo o que parece logicamente possível é
quimicamente viável. Acho que nosso caro Marcelo Gleiser precisa estudar um
pouco mais os princípios fundamentais da Química.”