Teoria mirabolante da vez |
Jesus nunca existiu. Jesus é um plágio de divindades egípcias, gregas e
romanas. Jesus existiu e era o Filho de Deus entre nós. Jesus existiu, mas não
era divino, e Ele passou a infância na Índia. Jesus existiu e era casado. Na
verdade, Jesus foi uma invenção de aristocratas romanos do 1º século d.C.
O parágrafo anterior poderia ser muito maior, sumarizando outras opiniões
a respeito da pessoa de Cristo. A última teoria vem da pena de Joseph Atwill (foto),
autor da obra Caesar’s Messiah: The Roman
Conspiracy to Invent Jesus (2001). Seria muito conveniente para mim, um
pastor formado por uma tradicional instituição cristã, dizer que a obra de
Atwill não passa de mais um péssimo livro acadêmico e que não deveria ser
levado a sério. Ao invés disso, vou citar acadêmicos sem nenhuma agenda
religiosa, que não concordam com a tese de Atwill.
O primeiro é Bart Ehrman, professor na University of North Carolina, em
Chapel Hill, nos EUA, e um ex-cristão, hoje agnóstico. Ehrman é tido como um
dos principais historiadores dos primeiros séculos da história do cristianismo,
e ganhou notoriedade no Brasil com a publicação da obra O Que Jesus Disse? O Que Jesus Não Disse?: Quem mudou a Bíblia e por
quê? (Prestígio, 2006). Na época, várias revistas publicaram reportagens a respeito
do livro revolucionário.
Em 2012, Ehrman publicou a obra Did Jesus Exist? The Historical Argument for
Jesus of Nazareth (Harper Collins). Para ele, a resposta é óbvia: sim,
Jesus existiu e ponto final. Mas logo no prefácio da obra ele explica o que o
levou a escrever sobre o tema: a quantidade de e-mails questionando a
historicidade de Jesus.
Ao pesquisar o tópico na internet, Ehrman ficou impressionado com a
quantidade de “especialistas” que acreditavam que Jesus era um mito. Em seu
livro, o acadêmico agnóstico dá ouvidos às afirmações de vários defensores do “mito”,
entre eles Acharya S., Earl Doherty, Frank Zindler, David Fitzgerald e Robert
Price. De acordo com as pesquisas de Ehrman, “acadêmicos treinados em Novo
Testamento ou em estudos do cristianismo primitivo que lecionam em grandes ou
pequenos seminários teológicos, Divinity Schools, Universidades ou Colégios nos
EUA, Europa ou em qualquer lugar do mundo, não defendem a ideia do Jesus-mito”. Ele
continua: “Dos milhares de acadêmicos de cristianismo dos primeiros séculos que
lecionam em tais escolas, nenhum deles, até onde eu saiba, duvida de que Jesus tenha existido” (p. 2, tradução livre).
Curiosamente, a mídia brasileira não publicou nada a respeito desse
livro. Não se trata de um pastor pentecostal escrevendo sobre Jesus. Trata-se
de um verdadeiro acadêmico (repito, agnóstico) defendendo a historicidade dEle.
Mas não, importante mesmo é a teoria de que Jesus foi uma invenção romana para
manipular as massas! Algo útil para levantar mais discussões sobre como igrejas
evangélicas "estão manipulando as massas no Brasil".
Nem mesmo os defensores do “mito” conseguem levar a sério a tese de
Atwill. Richard Carrie é um deles. Note bem, ambos estão no mesmo barco – eles
não acreditam que Jesus existiu –, mas, para Carrier, a tese de Atwill beira o ridículo.
Carrier publicou em seu blog inúmeros motivos pelos quais tem
vergonha da tese de Atwill.
Outra defensora do “mito” que também não comprou a ideia foi Acharya S. (D.
Murdock).
Mesmo para aqueles que têm uma posição negativa a respeito de Jesus, o trabalho
de Atwill consegue ser desqualificado. Só mesmo Richard Dawkins para comprar
essa ideia! (confira)
Em suma, você pode não acreditar que Jesus era Filho de Deus, mas supor
que Ele foi um personagem inventado, isso, sim, parece ser fruto de manipulação.
(Luiz Gustavo Assis é formado em Teologia pelo Unasp e
cursa o mestrado nos EUA)
Leia também: "Jesus Cristo: um plágio?"