Declarações surpreendentes |
“Será
que o papa é católico?”, eis o sarcasmo que a maioria dos fiéis católicos nunca
iria perguntar; pelo menos não seriamente. Mas com uma série de recentes
pronunciamentos e decisões que atacam a tradição papal, o papa Francisco deixou
muitos católicos se perguntando se a Igreja Católica irá sobreviver a este
papado. Nos últimos dias, a mídia se ateve a uma declaração que parece sugerir
que os descrentes (ou mesmo os não católicos, ou até ateístas) podem ganhar a
salvação e ser admitidos no céu (confira),
enquanto seu recém-nomeado secretário de Estado, a segunda posição mais
importante no Vaticano, sugeriu que eles estão prontos para repensar o celibato
e o clero, sugerindo que padres e freiras poderão ter permissão de se casar. Agora,
o fiel católico se pergunta: “Será que a Igreja Católica irá sobreviver ao
papado de Francisco?”
O
choque com o pensamento tradicional católico começou quando o papa Francisco
decidiu voltar ao avião e conceder uma entrevista aos repórteres no voo de
volta do Brasil para casa, em sua primeira viagem internacional como papa. Em
vez de dizer que o homossexualismo é um “mal moral intrínseco”, conforme disse
seu predecessor Bento XVI, o papa Francisco respondeu à pergunta de um repórter:
“Se alguém é gay e procura o Senhor de boa vontade, quem seu ou para julgar?”
Então,
em 11 de setembro, em uma carta publicada na primeira página de um jornal de
Roma, o La Repubblica, o papa
Francisco respondeu à pergunta do fundador do jornal e editor de longa data,
Eugenio Scalfari, de 89 anos, que perguntou se Deus iria perdoar uma pessoa sem
fé por um pecado cometido. Sua resposta saiu nas manchetes de todo o mundo,
concluindo que o papa abriu as portas para a salvação dos que não acreditam em
Deus.
Escreveu
o papa: “E assim chego às três perguntas que me coloca no artigo de 7 de
agosto. Parece-me que, nas duas primeiras, aquilo que lhe está no coração é
entender a atitude da Igreja com quem não partilha a fé em Jesus. Antes de mais
nada, pergunta-me se o Deus dos cristãos perdoa a quem não acredita nem procura
acreditar. Admitido como dado fundamental que a misericórdia de Deus não tem
limites quando alguém se dirige a Ele com coração sincero e contrito, para quem
não crê em Deus a questão está em obedecer à própria consciência: acontece o
pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, quando se vai contra a consciência.
De fato, ouvir e obedecer a esta significa decidir-se diante do que é percebido
como bem ou como mal; e é sobre essa decisão que se joga a bondade ou a maldade
das nossas ações.”
Na
mesma carta, o papa Francisco se dirigiu aos judeus, continuando um tema que o
tornou famoso na Argentina desde o ataque a bomba a um centro judeu em Buenos
Aires, em 1994, matando 85 pessoas e deixando centenas feridas. O papa destaca
que o povo judeu é a “raiz” de onde germinou Jesus. “Na amizade que cultivei
durante todos esses anos com os irmãos judeus, na Argentina, também eu muitas
vezes questionei a Deus na oração, especialmente quando a mente se detinha na
recordação da experiência terrível do Holocausto.” “O que posso lhe dizer – com
palavras do apóstolo Paulo – é que nunca esmoreceu a fidelidade de Deus à
aliança estabelecida com Israel e que, através das terríveis provações destes
séculos, os judeus conservaram sua fé em Deus.”
Na
ocasião do Rosh Hashaná (ano novo judaico), o papa desejou aos judeus um feliz
ano novo e encorajou um diálogo aberto em questões de fé. Ainda assim, Giulio
Meotti, um jornalista italiano, ao escrever um editorial ao Israeli National News, não ficou
satisfeito. “Mas conforme mostra essa nova carta, um dos graves perigos no
diálogo do Vaticano com o judaísmo é a tentativa da Igreja de dividir os judeus
‘bons’ e dóceis da Diáspora e os judeus ‘maus’ e arrogantes de Israel”, escreve
Meotti. “O papa Francisco nunca se dirigiu aos israelenses nas suas mensagens,
nem defendeu abertamente o Estado Judeu desde que foi eleito pelo Colégio dos
Cardeais. Parece que não há espaço para os sionistas fiéis e obstinados no
sorriso leniente do papa. Em seus discursos, as aspirações nacionais judaicas
são ignoradas, e até mesmo denegridas.”
Meotti
fez referência a uma carta que a Conferência de Bispos Católicos dos EUA
distribuiu recentemente junto com a Universidade Católica da América, que
condenava a expansão dos assentamentos israelenses. A carta argumentava que a
expansão dos assentamentos é “uma fonte primária de violações dos direitos
humanos dos palestinos”, sugerindo que os palestinos que vivem em Israel sofrem
“uma ocupação militar prolongada” por judeus israelenses.
Enquanto
o papa Bento XVI proibiu um diálogo aberto sobre se padres e freiras deveriam
ter permissão de se casar, o papa Francisco, que notoriamente disse que o
celibato clerical poderia mudar, pode estar prestes a colocar o assunto na
pauta para um debate sério. Assim afirma Clelia Luro, uma mulher de 87 anos
cujo romance e eventual casamento com um bispo se tornou um enorme escândalo na
década de 60. Sua história não impediu o papa Francisco de ser seu amigo muito
próximo, que lhe telefonava todos os domingos quando era cardeal chefe da
Argentina, segundo reportagem da Fox News.
Aquela
previsão pareceu estar se concretizando depois que o arcebispo italiano Pietro
Parolin, núncio da Venezuela que foi recentemente indicado para ser secretário
de Estado do papa, segundo no comando do vaticano, disse ao jornal
venezuelano El Universal que
o celibato do clero não é um dogma.
Traduzindo
para fora da terminologia formal da Igreja Católica, com esse pronunciamento, o
arcebispo Parolin está sinalizando que o celibato para o clero não é um artigo
obrigatório para a fé na qual todos os católicos praticantes devem acreditar,
mas uma prática ou tradição que deveria ser aberta ao debate.
(Jerome R. Corsi,
traduzido por Luis Gustavo Gentil do original do WND;
trechos da carta do papa Francisco ao jornal italiano retirados de News.va; via Julio Severo)
Leia aqui trechos de uma entrevista publicada no Estadão.