Não
bastassem o grupo de acadêmicos que enviou carta à Academia Brasileira de Ciências
em repúdio ao criacionismo e certos sites de divulgação científica que proíbem comentários com conteúdo criacionista, agora há quem queira
por meio da lei amordaçar o professor criacionista que “ousou” ensinar algo
diferente da ortodoxia darwinista. O professor de História do Colégio Adventista
de Várzea Grande, MT, Toni Carlos Sanches (foto acima), resolveu dar uma aula
diferente a respeito de fósseis. Conforme descrição publicada no Portal da Educação Adventista, a intenção dele foi a de simular experimentalmente a produção de fósseis e
verificar como eles teriam se formado e se seriam mesmo necessários os alegados
milhões de anos para que seres vivos acabassem mineralizados.
É
sabido que, para que haja fossilização, são necessários fatores como
sepultamento rápido (para evitar a decomposição do animal ou que ele seja
devorado por predadores/carniceiros) e grande quantidade de água e sedimentos.
O fato de haver incontáveis animais e plantas fossilizados em todo o mundo,
incluindo-se aí dinossauros de grande porte, cuja fossilização exigiria enormes
quantidades de lama e sepultamento rápido, indica que deve ter havido um grande
evento catastrófico no passado que promoveu extinções em massa. Muitos desses
animais foram realmente pegos de surpresa, tanto que foram encontrados peixes
fossilizados no exato momento em que devoravam a presa ou animais no instante
em que davam à luz. Além disso, evidências indicam que os dinossauros morreram afogados, tendo sido, posteriormente, fossilizados.
Também
não é novidade para ninguém que a Rede Educacional Adventista ensina o
criacionismo (confira aqui), além do evolucionismo. Em 2008, a revista Veja publicou uma reportagem na qual exaltava as qualidades da
educação adventista, ao mesmo tempo em que “estranhava” o fato de essa escola tão
distinta ensinar o criacionismo (confira aqui). Conforme destaquei aqui no blog, na semana seguinte à publicação daquela matéria, Veja publicou oito cartas de leitores, todos elogiando o sistema
educacional. Meu e-mail também foi publicado e reproduzo-o aqui para, em
seguida, voltar à aula do professor Toni:
“A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
estabelece que os alunos devem criticar objetivamente as teorias científicas
como constructos humanos de representação aproximada da realidade, que essas
teorias estão sujeitas a revisões e até a descarte e que o ensino médio tem
entre suas finalidades habilitar o educando a ser capaz de continuar
aprendendo, a ter autonomia intelectual e pensamento crítico. Fui professor de
história num colégio adventista em Florianópolis e hoje sou editor na Casa
Publicadora Brasileira (editora adventista), por isso posso garantir que tanto
nas aulas quanto em nossos livros didáticos cumprimos o que recomenda a LDB, uma
vez que estimulamos o pensamento crítico dos alunos ao apresentar-lhes os dois
modelos das origens e permitir que façam comparações e identifiquem as
insuficiências epistêmicas do darwinismo.”
O que o professor Toni fez foi ensinar o
contraditório e permitir aos alunos desenvolver o senso crítico/comparativo (coisa que me foi negada em meus tempos de aluno do ensino fundamental). O
que o professor Toni fez foi seguir a recomendação da LDB, segundo a qual o
aluno deve aprender a ter “autonomia intelectual”. Mas, lamentavelmente, a
intenção dele foi distorcida e a aula sobre fósseis virou motivo de acalorado
debate no Facebook. Tivesse ficado apenas no debate, já teria valido a pena,
pois o debate, quando respeitoso (infelizmente não é o caso, haja vista os
muitos ataques feitos na rede social ao professor e à educação adventista),
acaba sendo proveitoso, ainda que apenas para que se conheçam as ideias de quem
pensa de maneira diferente. Mas a polêmica “evoluiu” e não ficou apenas na
discussão: um professor universitário irado resolveu enviar ao Ministério
Público de Mato Grosso denúncia contra o professor de história que ousou
ensinar algo diferente para seus alunos, desafiando, assim, o mainstream evolucionista que agora
precisa da força da lei para se firmar como hipótese vigente e preponderante,
amordaçando seus oponentes em lugar de promover o diálogo e a contraposição
educada de ideias.
A Liga Humanista Secular do Brasil
aproveitou a onda e disparou no Facebook: “Colégio Adventista de Várzea Grande: um lugar onde se
contam mentiras para crianças. (E caso queiram se agravar com a caracterização
do que estão ensinando como ‘mentira’, ficaremos felizes em defender essa tese
em qualquer tribunal do país.)”
É lamentável que se queira
vencer essa discussão nos tribunais. É lamentável que alguns queiram dar a
entender que das escolas adventistas não saiam bons profissionais e cientistas
de renome (gente como os doutores Rodrigo e Nahor, para citar apenas dois exemplos). É
lamentável que um professor bem intencionado, seguindo a lei e preocupado com a
formação eclética de seus alunos, acabe exposto dessa maneira injusta,
vexatória e truculenta.
A
continuar assim em nosso país (e no mundo) essa controvérsia entre o
criacionismo e o evolucionismo, estaremos enveredando por um caminho perigoso
em que a intolerância, a voz autoritária da lei e a inquisição sem fogueiras levarão
muitos à encruzilhada fatal do silêncio forçado ou da liberdade de pensamento –
na cadeia ou no olho da rua.
Lamentável,
mas, (in)felizmente, profético.
Michelson Borges
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