Os
cientistas não gostam de falar do que não sabem. Menos ainda revelar a própria
ignorância. É por isso que nenhum cosmologista envolvido na produção do mapa
mais nítido da origem do Universo [imagem abaixo], divulgado no dia 21 de março,
tentou explicar as anomalias surpreendentes da imagem. Ninguém as explicou
porque não têm explicação. Como explicar o inexplicável é o ofício da ciência,
os cosmologistas estão intrigados.
O
Universo é bem velho. Surgiu [sic] há 13,8 bilhões de anos numa explosão
conhecida como Big Bang, que lançou matéria e energia em todas as direções.
Quando os astrônomos usam telescópios para perscrutar os céus, observam
galáxias que estão a milhões de anos-luz da Terra. Um ano-luz é a
distância que a luz percorre em 365 dias, à velocidade de 300.000
quilômetros por segundo. Por isso, telescópios também são máquinas do tempo.
Olhar estrelas e galáxias é ver como elas eram quando a luz que enxergamos foi
emitida. Quanto mais potente o telescópio, mais longe no passado enxerga.
Observatórios
poderosos fotografam galáxias a bilhões de anos-luz. Em dezembro, o telescópio
espacial Hubble revelou o objeto mais distante já visto, uma galáxia a 13,4
bilhões de anos-luz. Sua luz começou a viajar em nossa direção quando o
Universo tinha 400 milhões de anos. É improvável que se veja mais longe. Aquela
galáxia é das mais antigas [e, curiosamente, num Universo tão “jovem”, a
galáxia já estava formada]. Antes dela, não havia estrelas. O que existia era a
energia emitida 380 mil anos após o Big Bang. O tênue eco daquela energia ainda
reverbera nos céus. É conhecido como Radiação Cósmica de Fundo (CBR, de cosmic
background radiation).
O satélite Explorador do Fundo Cósmico (Cobe), da Nasa, revelou uma distribuição homogênea de radiação no cosmo, um fato de acordo com a teoria do Big Bang. Em 2003, a Sonda Anisotrópica de Micro-ondas Wilkinson (WMAP), também da Nasa, fez um mapa mais preciso. A trama se mostrou mais intrincada, porém ainda homogênea.
O satélite Explorador do Fundo Cósmico (Cobe), da Nasa, revelou uma distribuição homogênea de radiação no cosmo, um fato de acordo com a teoria do Big Bang. Em 2003, a Sonda Anisotrópica de Micro-ondas Wilkinson (WMAP), também da Nasa, fez um mapa mais preciso. A trama se mostrou mais intrincada, porém ainda homogênea.
Agora,
tudo mudou. O novo mapa, produzido pelo telescópio espacial Planck, da Agência
Espacial Europeia (ESA), é o mais nítido. Revela a fina renda de um Universo
nada homogêneo, em desacordo com as teorias. O granulado na imagem revela
variações ínfimas na temperatura do espaço que nos cerca (o mapa é uma imagem
em 360 graus do céu noturno, a partir do ponto de vista aqui da Terra). Os
pontos amarelos e laranja indicam as regiões mais densas e quentes. Nelas se
formariam as galáxias. Os pontos verdes e azuis indicam as regiões mais frias e
vazias, que hoje representam vácuos intergaláticos. Isso era o esperado. O que
não se explica é a enorme faixa alaranjada, mais quente, que divide o céu de
ponta a ponta. Sem falar no misterioso círculo vazio e gelado no canto inferior
direito. Tais anomalias simplesmente não deveriam existir. “A qualidade do retrato
do Universo criança feito pelo Planck revela que nossa visão do cosmo está longe de ser completa”, diz Jean-Jacques
Dordain, diretor-geral da ESA.
A possibilidade da existência das anomalias fora levantada no mapa de 2003, mas prontamente descartada como uma imprecisão. “O fato de o Planck ter detectado as anomalias elimina qualquer dúvida sobre sua existência. Elas são reais. Temos de buscar explicações plausíveis”, afirma o físico italiano Paolo Natoli, da Universidade de Ferrara. O cosmologista Max Tegmark, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, é membro da equipe responsável pelo novo mapa e se diz “encantado”. “O Universo está tentando nos dizer alguma coisa.”
O que será? A revelação das anomalias não fere a teoria tradicional do Big Bang. Sua vítima é outra, a teoria inflacionária. Segundo ela, em seus primeiros trilionésimos de segundo, o Universo passou por uma expansão exponencial, chamada de inflação. Daí surgiram as variações na textura cósmica, que até então pensávamos ser homogênea. Pode uma nova teoria explicar por que o Universo bebê tinha duas anomalias concêntricas? Muitos cosmologistas creem que nosso Universo é só um entre infinitos outros. Se for este o caso, seria aquele misterioso círculo escuro um umbigo cósmico? A imagem é fascinante. É hora de os cosmologistas começarem a sonhar.
(Época)
Nota:
O problema é este: há cientistas que “sonham” demais, apresentam suas teorias
como se fossem fato, a mídia se encarrega de espalhar suas palavras e o povo
acredita em tudo. Muita gente ainda crê que a teoria da expansão do Universo é um fato. Não é. O verdadeiro fato é que
conhecemos quase nada sobre o mundo que nos rodeia, e isso deveria nos tornar
mais humildes, enquanto buscamos as respostas. O que havia antes do big bang?
Essa é uma boa pergunta. Tão boa e tão “teológica”, que alguns cosmólogos
preferem apelar para a metafísica pura (teoria dos multiversos)
a admitir que tudo o que teve um começo precisa de uma causa. E se nesse começo
tiveram início o tempo, o espaço e a matéria, essa causa primeira não causada
precisa ser atemporal, imaterial e estar além do espaço. Você conhece uma Causa com esses atributos?[MB]
Leia também: "Big bang e universos paralelos" e "Big Bang não precisou de Deus"
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