Pode
parecer absurdo – e preconceituoso – julgar a capacidade mental e a
personalidade das pessoas pela quantidade de roupa que elas estão usando. Mas
um artigo de pesquisadores das universidades de Maryland, Yale e Northeastern
(EUA), publicado no jornal Personality
and Social Psychology, revelou que é exatamente isso o que fazemos. E tem
mais: seis estudos mostraram que a ideia que fazemos em relação à mentalidade e
atitude de alguém pode mudar significativamente se essa pessoa tira uma blusa
ou faz qualquer outra coisa que a faça revelar
mais o seu corpo. Assim, instantaneamente. A descoberta expande a ideia
difundida há muito tempo de que, quando
um homem vê uma mulher usando pouca roupa, ele se concentra mais em seu corpo e
menos em sua inteligência, o que faz com que ele a veja como um objeto sem
mente ou moralidade. Pesquisas anteriores sugerem que isso acontece quando
se olha para alguém em um contexto sexual, como na pornografia.
Mas
o novo estudo mostra que, além de esse efeito ocorrer com ambos os sexos, as
pessoas com pouca roupa não são vistas como mero objeto. Em vez disso, muda-se
o tipo de disposição mental que atribuímos a elas – e isso não acontece só
quando se expõe demais o corpo. “Mostramos também que isso pode
acontecer mesmo sem a remoção de roupas. Simplesmente focar nos atributos
físicos de alguém, concentrando-se em seu corpo em vez de em sua mente, faz
você ver a pessoa menos como um agente [alguém com a capacidade de agir,
planejar e exercer autocontrole] e mais como um experimentador [alguém mais
focado nas sensações e emoções]”, explicou ao MedicalXpress um dos autores do estudo,
o psicólogo Kurt Gray.
Em
múltiplas experiências, os pesquisadores puderam comprovar a existência desses
dois tipos de percepção que temos sobre os outros. Quando os homens e mulheres
usados como voluntários focavam no corpo de alguém, a percepção de “agência”
(autocontrole e ação) foi reduzida, enquanto a percepção de “experiência”
(emoção e sensação) foi aumentada.
Para
os autores, esse efeito ocorre porque as pessoas, inconscientemente, pensam em
mentes e corpos como coisas distintas ou até mesmo opostas – com a capacidade
de agir e planejar ligada à mente e a capacidade de experimentar ou sentir
ligada ao corpo. De acordo com Gray, as descobertas não são de todo ruim: elas
podem ser úteis na vida amorosa. “O foco no corpo e o aumento da
percepção da sensibilidade e emoção que isso provoca pode ser bom para os
amantes”, diz ele.
Surpreendentemente,
o estudo também descobriu que um foco no corpo da pessoa pode na verdade
aumentar a postura moral dos outros em relação a ela – pelo menos no que se
refere a causar-lhes danos. Embora quem estivesse vestindo pouca ou nenhuma
roupa tenha sido visto como menos moralmente responsável nos testes, eles
também foram vistos como indivíduos mais sensíveis e, portanto,
merecedores de maior proteção. “Os outros parecem ser menos inclinados a
prejudicar as pessoas com a pele nua e mais inclinados a protegê-los. Em um
experimento, por exemplo, as pessoas eram menos inclinadas a dar pequenos
choques elétricos em homens sem camisa do que naqueles que estavam vestidos”,
explica Gray.
No
entanto ele destaca que, no ambiente de trabalho ou em contextos acadêmicos,
nos quais as pessoas são basicamente avaliadas de acordo com sua capacidade de
planejar e agir, isso tem efeitos negativos: ser visto como um “experimentador”
faz a pessoa parecer menos competente e lhe tira a liderança, o que
impacta negativamente a avaliação do seu trabalho. Essas pessoas também são
vistas como mais reativas e emocionais, características que também podem
prejudicar a sua carreira.
O
aspecto positivo de um foco no corpo, como o aumento no desejo de proteger
contra danos, também pode ser prejudicial. Segundo os autores, isso pode dar
origem ao chamado “sexismo benevolente”, comum nos Estados Unidos na década de
1950, em que os homens oprimiam as mulheres sob o pretexto de protegê-las.
Nota:
Várias pesquisas têm mostrado que a forma como nos vestimos influencia a
maneira como somos vistos. Para os cristãos, que desejam representar Cristo
diante dos outros, isso é especialmente importante. É inconcebível que um
“embaixador” e uma “embaixatriz” do Céu escolham vestir-se de modo a chamar
atenção para seus atributos físicos. Essas partes de seu corpo devem ser
exibidas apenas para aquela pessoa com quem se firmará um compromisso vitalício
de amor e respeito e que, portanto, não o/a verá como objeto, mas, sim, como
dádiva de Deus. O assunto do vestuário é mais sério do que muitos têm
pensado.[MB]