Neste
exato momento, a um bilhão de quilômetros, mais ou menos entre as órbitas de
Saturno e de Júpiter, um cometa [indicado na foto acima] segue a toda velocidade em direção ao Sol.
Quando passar próximo à Terra, no fim do ano que vem, seu brilho será o
mais intenso já registrado no céu em toda a história, superando o da Lua Cheia.
A oportunidade é única: quando seguir seu caminho, o ISON, como foi batizado,
não voltará tão cedo. O cometa foi descoberto no último dia 21 de setembro,
quando uma dupla de astrônomos amadores do International Scientific Optical
Network (ISON), observatório da Rússia, avistou algo novo na constelação de
Câncer. Mal identificaram o pontinho luminoso, Artyom Novichonok e Vitaly
Nevski publicaram as coordenadas aproximadas no site da União Astronômica
Internacional (IAU, na sigla em inglês). Nas horas seguintes, outras praças ao
redor do mundo começaram a acompanhar imediatamente a aproximação do objeto,
reconhecido oficialmente pela IAU como um cometa – e nomeado de C/2012 S1
(ISON), em homenagem ao centro russo – três dias depois.
Mas
por que o ISON é razão para tamanho entusiasmo entre os amantes da astronomia?
A resposta é simples, segundo o astrofísico Gustavo Rojas, da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar): o ISON pode brilhar, e brilhar muito. “Os
astrônomos utilizam uma escala de magnitudes para indicar o brilho dos objetos
celestes. Nessa escala, quanto menor o número, maior o brilho. E se o ISON
sobreviver, algumas projeções indicam que a magnitude será de -13. Na escala,
números negativos indicam corpos muito brilhantes”, afirma.
Não
é pouca coisa, visto que a Lua Cheia tem magnitude -12,7 e Vênus, o planeta
mais brilhante do sistema Solar, -4,8. Ou seja, pode ser que esse cometa passe
pela Terra e produza um efeito comparável – se não superior – ao do Ikeya-Seki,
que teve magnitude -10. [...]
A
órbita calculada do ISON indica que ele provém da nuvem de Oort, uma espécie de
redoma com trilhões de rochas a quase um ano-luz do Sol. É de lá que costumam
vir os cometas de longo período, denominação dada àqueles que demoram mais de
200 anos para percorrer seu trajeto de ida e volta ao Sol. [...]
Embora
ainda seja muito cedo para determinar o tamanho do ISON, o fato de ele ter um
período orbital extremamente longo indica que não se trata de um objeto
pequeno. A cada vez que contorna o Sol, a radiação faz com que um cometa perca
matéria – uma das explicações para o Halley, cuja passagem é registrada desde a
Antiguidade, ser relativamente pequeno. Dessa forma, quanto menos vezes um
cometa realiza sua passagem pela estrela incandescente, mais preservado é. E
quanto mais matéria ele tiver para queimar, mais brilhante tende a ficar. [...]
Caso
o ISON sobreviva à aproximação com o Sol e siga sem ser incomodado o seu
caminho, os astrônomos esperam que ele seja observável a olho nu por dois
meses, entre novembro de 2013 e janeiro do ano seguinte. Pela trajetória
calculada, o hemisfério norte terá uma vista mais privilegiada, mas o cometa
também será observável do hemisfério sul. Quem tiver acesso a um telescópio
amador conseguirá acompanhar a jornada do cometa já a partir de agosto de 2013.
[...] No dia 28 de dezembro de 2013, um mês depois do periélio, ele realizará a aproximação máxima do nosso planeta: uma
distância de mais ou menos 64,3 milhões de quilômetros.
Também
a partir de agosto do ano que vem, quando o ISON estiver a uns 450 milhões de
quilômetros do Sol, será possível ter uma melhor dimensão do quão brilhante o
cometa poderá ser. A essa distância, a radiação deve começar a produzir alguma
atividade de vaporização no interior do núcleo. [...]
(Veja)