Eduardo Campos (1965-2014) |
Robin Williams (1951-2014) |
Williams
construiu uma carreira de sucesso e galgou a escada da fama como poucos no
concorrido mundo das celebridades. Notabilizou-se por filmes como “Bom Dia,
Vietnã”, “Sociedade dos Poetas Mortos” (carpe
diem, quem daquele tempo não se lembra?), “Patch Adams” e “Uma Babá Quase
Perfeita”. Aliás, uma das especialidades do ator era fazer rir. Suas comédias
encantaram milhões de pessoas mundo afora. Então por que um fim tão triste?
Longe das câmaras, Williams vivia seus dramas, como qualquer mortal comum.
Apesar de ter tido um patrimônio avaliado em 280 milhões de reais, o ator
estava envolvido em dificuldades financeiras por causa de dois divórcios (ambos
teriam custado algo como 76 milhões ao ator). Além disso, ele também lutava
contra o vício em cocaína e álcool, desde os anos 1970. Com depressão profunda,
Williams pôs fim à sua vida cortando o pulso e se enforcando com um cinto.
Em
1998, em entrevista à revista Veja, Williams
falou abertamente sobre a dependência química. “Eu me tratava com um psiquiatra
que dizia não haver problema em cheirar cocaína, desde que o consumo fosse
controlado”, afirmou. “Até o dia em que descobri que ele cheirava muito mais do
que eu. O efeito da droga é extremamente sedutor. O problema é que ela passa a
dominar você, a controlar sua vida.” Na mesma entrevista, ele contou que a
paternidade o levou a largar as drogas, em 1983. “Queria acompanhar todo o
processo de gravidez e parto, sem perder nada. Sabia que ser pai já seria uma
transformação louca e problemática sem drogas – imagine com elas.”
Por
20 anos, Williams ficou sóbrio e viu sua carreira deslanchar, mas, em 2003, ele
voltou a beber. Três anos depois, foi internado em uma clínica de reabilitação,
por intervenção da família. Em 2010, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o ator contou que
estava frequentando semanalmente as reuniões dos Alcoólicos Anônimos
(AA). Em julho de 2014, ele decidiu por conta própria
se internar mais uma vez em uma clínica de reabilitação. Foi a
última vez.
Campos
e Williams: dois pais de família, duas figuras públicas, dois homens de
sucesso. Cada qual deixa um legado, mas não é isso que vai consolar as esposas
e os filhos. Tenho certeza de que eles dariam tudo para tê-los de volta. E é
justamente isto o que nos deve fazer pensar neste momento – e sempre que a
morte nos faz recordar nossa finitude e fragilidade: os relacionamentos são a
coisa mais importante da nossa vida. Devemos investir tempo, energia e
sentimentos nas pessoas. Devemos amar de todo o coração e intensamente, pois o
cronômetro da existência terrena corre rápido, e o que passou, passou.
Mas
há ainda algo mais importante do que os relacionamentos humanos. Nosso
relacionamento com Deus. Por quê? Porque é nesse relacionamento que temos a
esperança de tornar eternos os demais relacionamentos. Ainda que a morte
encontre um fiel filho de Deus, ele sabe que ela não é definitiva, e os seus
que também creem têm a esperança do reencontro por ocasião da ressurreição
(conheça mais sobre isso aqui). Conselheiros,
psicólogos e amigos ajudam nos momentos de dor, mas são falíveis, limitados e
mortais como nós mesmos (e Williams aprendeu isso com seu psiquiatra). Por
isso, precisamos nos amparar num Amigo cujos ombros são amorosos e
todo-poderosos. Ali podemos chorar, gritar, desabafar. Ali encontramos o
verdadeiro conforto, que não é apenas emocional, mas de alma. Ali encontramos a
esperança de que esta vida curta e dolorosa não é o “fim da linha”; que há
muito mais além.
Mais
um detalhe sobre Campos: ele tinha esposa e cinco filhos. Uma bela família e um
exemplo meio raro nesse aspecto, vindo de figuras públicas e de famosos, em
nossos dias. A morte dele deixa nosso país mais carente de bons exemplos; mais
depauperado em sua já escassa reserva moral. Certa ocasião, Campos recebeu de presente
o livro A Única Esperança, de Alejandro Bullón. Deus queira que ele tenha tido tempo de lê-lo. E que Deus conforte o
coração de todos os que sofrem a perda desses homens.
Michelson Borges