As digitais do grande Artífice |
Trecho
extraído do livro Ditos e Feitos
Memoráveis de Sócrates, escrito por Xenofonte. No capítulo IV, em um
diálogo com Aristodemo, o filósofo do V século a.C. (Sócrates) interroga-o da
seguinte maneira:
–
Das obras sem destinação manifesta e daquelas cuja utilidade é incontestável, quais consideras como produto do acaso ou de uma
inteligência?
–
Justo é atribuir a uma inteligência as obras que tenham fim de utilidade.
Logo após, Sócrates inicia uma descrição da complexidade da espécie humana. Apesar das limitações do conhecimento, pois falamos do V século a.C., podemos perceber que o ilustre filósofo consegue ver nesse design as digitais de um Criador. Observe:
Logo após, Sócrates inicia uma descrição da complexidade da espécie humana. Apesar das limitações do conhecimento, pois falamos do V século a.C., podemos perceber que o ilustre filósofo consegue ver nesse design as digitais de um Criador. Observe:
–
Não te parece então que aquele que, desde que o mundo é mundo, criou os homens lhes haja dado, para que lhes fossem úteis, cada um dos órgãos por
intermédio dos quais experimentam sensações, olhos para ver o que é visível e ouvidos para
ouvir os sons? De que nos serviriam os odores se não tivéssemos nariz? Que ideia
teríamos do doce, do amargo, de tudo o que agrada ao paladar, se não existisse
a língua para os discernir? Ao demais, não achas dever olhar-se como ato de
previdência que sendo a vista um órgão frágil, seja munida de pálpebras, que se
abrem quando preciso e se fecham durante o sono; que para proteger a vista
contra o vento, essas pálpebras sejam providas de um crivo de cílios; que os
supercílios formem uma goteira por cima dos olhos, de sorte que o suor que escorra da testa não lhes possa
fazer mal; que o ouvido receba todos os sons sem jamais encher-se; que em todos
os animais os dentes da frente sejam cortantes e os molares aptos a triturar os
alimentos que daqueles recebem; que a boca, destinada a receber o que excita o apetite, esteja
localizada perto dos olhos e do nariz, de passo que as dejeções, que nos
repugnam, têm seus canais afastados o mais possível dos órgãos dos sentidos?
Trepidas em atribuir a uma inteligência ou ao acaso todas essas obras de tão
alta previdência?
–
Não, por Júpiter! – respondeu Aristodemo – Parece, sem dúvida, tratar-se da
obra de algum artífice sábio e amigo dos seres que respiram.
(Colaboração: Gabriel
M. Vasconcelos)