Simples adaptação |
Os
tentilhões são um grupo de espécies de pássaro das Ilhas Galápagos apresentado
por Charles Darwin e utilizado como um clássico exemplo de evolução. O
naturalista estudou pessoalmente essas espécies ao passar pela América do Sul,
em 1835.[1] Ele notou que cada ilha do arquipélago tinha suas próprias espécies
de tentilhões, cada uma com um formato de bico próprio. No entanto, Darwin não
conseguiu tirar nenhuma conclusão com base nas espécies de pássaros - os
quais ele pensara ser corruíras (wrens),
melros e tentilhões - do arquipélago antes de recorrer à ajuda de um
especialista em aves na Inglaterra. Em março de 1837, o ornitólogo John Gould - a quem
Darwin confiou as espécies para serem identificadas – informou que as três cópias
dos tentilhões, entre os pássaros capturados das Ilhas Galápagos, eram, na
verdade, tentilhões, mas cada um de uma espécie distinta.
Muitos
livros didáticos procuram induzir os estudantes a crer que a variação dos
tentilhões de Darwin aponta para a origem das espécies por meio da seleção
natural. Mas o fato é que não ocorreu nenhuma megaevolução (especiação). Os
tentilhões, apesar da variedade de bicos e costumes alimentares, continuavam
sendo tentilhões. Por exemplo, nunca foram encontrados fósseis de
pré-tentilhões (fóssil de transição) ou observada uma espécie se transmutando
em outra espécie. O que foi observado de mais notável, até hoje, é a redução do
tamanho médio de bicos em uma população de tentilhões-da-terra-médios (Geospiza fortis) que já possuíam
naturalmente bicos pequenos.[2] Isso é chamado de “deslocamento de caráter” (character displacement), quando uma
espécie adquire características diferentes em razão da competição com outra.
Em
1982, uma população de tentilhões-da-terra-grandes (Geospiza magnirostris) de uma ilha vizinha invadiu a ilha de Daphne
Maior, competindo devido à seca por comida com a população dominadora de
tentilhões-da-terra-médios (G. fortis).[3]
A espécie Geospiza fortis estava
bem estabelecida na ilha de Daphne, e tinha sido estudada em profundidade. Seu
bico era perfeitamente adequado para quebrar nozes grandes. Esses tentilhões
maiores (invasores) poderiam afastar os tentilhões médios de sua terra natal e
comer todas as nozes de grande porte. Durante o período de estudo, os
tentilhões médios da ilha de Daphne desenvolveram (variações limitadas) bicos
menores e mais adequados para nozes menores, ignoradas pelos tentilhões
invasores. No caso dos tentilhões de Galápagos, a profundidade média dos bicos
reverteu ao normal após a seca.[4] Como pode ser observado, não houve
especiação.
Mesmo
assim, Jerry Coyne escreveu em seu livro Why Evolution Is True que “tudo que nós exigimos da evolução
por seleção natural foi amplamente documentado” pelas pesquisas dos tentilhões.[5:
p. 134] Uma vez que as teorias científicas permanecem ou caem devido à
evidência, a tendência de Coyne a extrapolar as evidências não é algo correto
para a teoria que ele está defendendo.[4] Em 1999, um livreto publicado pela
Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos chamou a mudança de bicos dos
tentilhões de “um exemplo particularmente convincente de especiação”.[6: p. 10]
Devido a isto, o professor de Direito Phillip E. Johnson escreveu no The Wall Street Journal: “Quando nossos
principais cientistas têm que recorrer ao tipo de distorção que colocaria um
corretor da Bolsa na cadeia, você sabe que eles estão em dificuldades.” [7]
Em
2015, um estudo sequenciou o genoma de 120 tentilhões e encontrou uma
correspondência com uma sequencia do gene ALX1 – responsável pelo controle do
desenvolvimento da forma do bico dos tentilhões.[8] De fato, esse estudo
contribui para a compreensão do fator adaptabilidade
(microevolução). Infelizmente, ele também é um exemplo de deturpação da
ciência pelos neodarwinistas. Os autores descreveram uma partilha (transferência)
de genes entre as espécies de tentilhões através de eventos de hibridização. Em
1992, outro estudo já havia demonstrado que diversas espécies de tentilhões
pareciam estar se misturando por hibridização, em vez da diversificação através
da seleção natural.[9]
Uma
vez que uma bem-sucedida e contínua hibridização na natureza só ocorre dentro
da mesma espécie, ambas as evidências apontam para uma única espécie de
tentilhões. Essa situação está em desacordo com a teoria de Darwin a qual
refere que “uma espécie [foi] tomada e modificada”.[10: p. 345-356] Embora, Lamichhaney
e colaboradores afirmem que os tentilhões de Darwin “constituem um modelo
icônico para estudos de especiação e evolução adaptativa”[8: p. 371], seus
resultados estão diretamente opostos às expectativas da teoria
evolutiva. O processo evolutivo deveria ser lento e gradual, não rápido. O
processo deveria construir novos projetos, não escolher de entre os
preexistentes. O processo deveria continuar em uma direção e chegar a
novas espécies, não oscilar para trás e para frente.
Em
2015, outro estudo corroborou os achados de Lamichhaney e colaboradores ao demonstrar
as capacidades adaptativas de espécies como os tentilhões.[11] Observou-se que
as várias espécies desse pássaro têm, sim, capacidades de adaptação
fantásticas, mas não é fato o surgimento de novas espécies a partir destas que
ocorre por meio de sucessivas mutações acumuladas e selecionadas naturalmente.
Em vez disso, os autores observaram que há uma mudança rápida entre
modelos pré-existentes, e ativados por mecanismos também pré-existentes. Isto
é, as aves são rápidas em se adaptar, mas elas estão simplesmente seguindo o
ambiente e a oferta de alimentos. Devido à escassez de comida (sementes e insetos)
nas ilhas, os tentilhões são obrigados a alargar (mudar) seus hábitos
alimentares. Eles exploram os recursos florais e agem como polinizadores
potenciais em todo o arquipélago, tornando mais generalizada sua rede de contatos
pássaro-flor do que seus homólogos presentes no continente. O resultado disso é
sua flexibilidade e adaptabilidade. Como afirmou o pós-doutor Willemoes, do
Museu de História Nacional da Dinamarca, “não houve evolução especializada em
longo prazo”.[12]
Assim,
é possível constatar que a adaptação (microevolução) não está relacionada ao surgimento
de novas espécies (especiação).
(Everton Alves)
Referências:
[1]
Mayr E. Historia do pensamento biológico:
diversidade, evolución, herdanza (tradução de Emilio valadé del Río).
Santiago de Compostela: Universidade, Servícios de Publicacións e Intercambio
Científico, 1998.
[2]
Almeida Filho, EE. “A evolução é ‘fato, Fato, FATO’! Como? Os bicos dos
tentilhões encolheram!” [jul. 2006]. Blog Desafiando a Nomenklatura Científica,
2006. Disponível em: http://pos-darwinista.blogspot.com.br/2006/07/evoluo-fato-fato-fato-como-os-bicos.html
[3]
Grant PR, Grant BR.
“Evolution of Character Displacement in Darwin’s Finches.” Science. 2006;
313(5784):224-6.
[4]
Almeida Filho, EE. “Por que o darwinismo é falso” – parte 3/3. [abr. 2012].
Blog Desafiando a Nomenklatura Científica, 2012. Disponível em:
[5] Coyne JA. Why Evolution Is True. Oxford: Oxford University Press, 2009.
[6] Capítulo “Evidence Supporting
Biological Evolution”, p. 10. In: National Academy of Sciences. Science and Creationism: A View from the
National Academy of Sciences. 2. ed., Washington, DC: National Academy of
Sciences Press, 1999. Disponível em: http://www.nap.edu/openbook.php?record_id=6024&page=10
[7]
Johnson PE. The Church of Darwin. The
Wall Street Journal (august
16, 1999): A14. Disponível em: http://www.arn.org/docs/johnson/chofdarwin.htm
[8]
Lamichhaney S, Berglund J, Almén MS, Maqbool K, Grabherr M, Martinez-Barrio A, Promerová M, Rubin CJ, Wang C, Zamani N, Grant BR, Grant PR, Webster MT, Andersson L. “Evolution of Darwin’s finches and their beaks revealed by genome
sequencing.” Nature. 2015; 518(7539):371-5.
[9] Grant PR, Grant BR. “Hybridization
of Bird Species.” Science. 1992;
256:193-197.
[10] Darwin C. Journal of Researches into the Natural History and Geology of the
Countries visited during the Voyage of H. M. S. Beagle. London:
Murray, 1845.
[11]
Traveset A, Olesen JM, Nogales M, Vargas P, Jaramillo P, Antolín E, Trigo MM, Heleno R.
“Bird–flower visitation networks in the Galápagos unveil a widespread
interaction release.” Nat Commun. 2015;
6:6376.
[12]
Entrevista concedida por Mikkel Willemoes. “Birds on the Galápagos Islands have
developed new eating habits” [mar. 2015]. Entrevistador: Johan Skov Andersen. ScienceNordic,
2015. Disponível em: http://sciencenordic.com/birds-gal%C3%A1pagos-islands-have-developed-new-eating-habits-0